quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O PADRE LEMAÎTRE

A imprensa deu conta de que o CERN iniciou finalmente a grande experiência que exigiu anos de preparação e rios de dinheiro. Tanto quanto julgo saber, tratou-se de construir um gigantesco acelerador de partículas que, num túnel de 37 quilómetros, vai permitir realizar, numa escala ínfima, claro está, o Big Bang que terá dado origem ao Universo. Espera-se com isso, não criar um universo novo, mas obter o chamado busão de Higgs, que alguns jornalistas chamaram a partícula de Deus, e alargar consideravelmente o que sabemos dos segredos da matéria. Mingam-me os conhecimentos para me adentrar nos meandros desta aventura da ciência, mas aguardo ansioso e entusiasmado os resultados da iniciativa em curso.

Julguei oportuno neste momento lembrar quem foi o autor da teoria do Big Bang , hoje penso que universalmente aceite como a melhor explicação científica da origem do Universo. Pois (e adivinho o espanto de muitos) foi um padre católico de seu nome Georges Lemaître.
Nascido na Bélgica em Charleroi a 17 de Julho de 1894, viria a falecer em Lovaina a 20 de Junho de 1966. Voluntário na Primeira Guerra Mundial, formou-se em engenharia na Universidade de Lovaina, antes de ascender ao sacerdócio. Prosseguiu os estudos primeiro em Cambridge, depois no Harvard College Observatory, e finalmente no famoso M.I.T.
Em 1927 ocupa a cátedra de Astronomia na Universidade de Lovaina, onde amadurece a sua visão do Universo – um Universo em expansão, que contrapunha à visão estática então dominante e ao tempo defendida por Einstein. Expôs a sua teoria primeiro no artigo “O átomo primigénio” publicado na revista Nature, que desenvolveria mais tarde nos Annales de la Société Scientifique de Bruxelles com um trabalho intitulado “Un Univers homogène de masse constante et de rayon croissant, rendant compte de la vitesse radiale dês nébuleuses extragalactiques”.
Einstein rendeu-se à teoria do padre e definiu-a como “a mais bela e satisfatória explicação da criação que alguma vez ouvi”. E não hesitou em subscrever a proposta para que lhe fosse atribuído o Prémio Francquis, a mais alta distinção belga para a ciência, que lhe foi conferida em 1934 pelo Rei Leopoldo III.
Nomeado membro da Pontifícia Academia das Ciências em 1936, assumiu a sua presidência em 1960 no Pontificado de João XXIII, que lhe conferiu o título de Monsenhor.
A sua carreira científica não o impediu de professar a Fé, e de repetir, até ao fim dos seus dias, as primeiras palavras do Génesis: “No princípio criou Deus o céu e a terra”.

©J. Tomaz Ferreira

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

NOVA EVANGELIZAÇÃO

A religião é um fenómeno universal no tempo e no espaço. Não há história das mais remotas eras que não tenha de dedicar, aos povos que estuda, um capítulo sobre a sua religião. Como arguta (e autorizadamente) escreve Mircea Eliade, “être – ou plutôt devenir – un homme signifie être religieux”. Assim, afirmar que a religião mais não é do que uma inerência da condição humana, mais não é do que a ilação necessária da afirmação citada.
A religião apresenta-se como a busca pelo homem do sagrado, do transcendente, de Deus – pouco importa a palavra com que se designe. É, consequentemente, um movimento ascendente do homem para Deus: é, poderíamos dizê-lo, a terra a clamar pelo céu, e, na perspectiva de Mircea Eliade, um tal movimento nasce irresistivelmente do desejo do homem de conseguir a sua completa hominização.

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Analisando o cristianismo e a sua proposta religiosa, encontramos invertidos os termos da génese da religião. Nele, não é o homem que vai à procura de Deus – é Deus que vem à procura do homem. Na religião de que falávamos, o homem interpela, na esperança de que Deus responda. No cristianismo, os termos invertem-se: cabe ao homem a resposta, porque a interpelação vem de Deus. Analisando o acto de Fé, católicos e protestantes, em diálogo ecuménico, acordaram em distinguir no mesmo três tempos em sequência lógica: a interpelação de Deus, o sim do homem, e o ámen de Deus como aceitação do assentimento do homem.

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Na sociedade contemporânea, é mais ou menos pacífico aceitar como facto o fenómeno da descristianização. Talvez em dimensão menor e em forma diferente das que alguns pretendem. Não se ignora que é moda, que é “bem” atacar a Igreja Católica e troçar dela. Há poucas horas ainda vi, na prosa duma colunista, apontar a Igreja como uma forma decadente de cultura pop... Mas não esqueço também que João Paulo II desafiou a Igreja a lançar um movimento a que chamou de “nova evangelização”. Em que consistia e que formas devia assumir, foram pormenores que o Papa não esclareceu – eventualmente porque nem ele próprio saberia...
Mas, à luz do que fica dito, parece que um dos factores, senão o principal, que explica a onda de descrença é a incapacidade da Igreja para ser junto dos homens o instrumento da interpelação de Deus. Porque os homens do nosso tempo não estão – longe disso – fechados ao apelo do transcendente. E disso existem múltiplos sinais. O drama está em que não é para o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob – o Deus de Jesus Cristo, que essa ânsia se orienta.

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É fácil rotular de progressistas e classificar de desorientados os que clamam pela reforma da Igreja, os que querem não outra Igreja, mas uma Igreja que seja outra. A verdade é que, na sua forma de organização, no seu modo de falar, nas formas de culto que propõe, dificilmente se conseguirá discernir a interpelação de Deus que é o princípio gerador da Fé. É isso que torna imperiosa a reforma da Igreja – e essa será deveras a nova evangelização.
J. Tomaz Ferreira

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Regressámos...

Inquietos e preocupados com o património espiritual e histórico das igrejas no Alentejo. Abandonadas, mal caiadas, sem eucaristias, as Igrejas no Alentejo (S.Domingos, Mértola, Alqueva), com um clero escasso, profundamente cansado, esperam ansiosamente que a hierarquia da Igreja proponha soluções contemporâneas para problemas do nosso tempo:
1. As comunidades reunem ao sábado e ao domingo impulsionadas pela fé das mulheres que persistem abrir a Igreja para proclamar a Palavra de Deus e rezar o terço;
2. A maior parte das Igrejas desta zona do país têm missa ao domingo uma vez por mês;
3. Nesta parte do território português é a comunidades dos fiéis e não a hierarquia que actualiza o mistério da fé;
O que se espera para propor soluções que respondam às nossas vivencias da fé no mundo moderno? Que se abandone a Igreja Católica Apostólica Romana e que se encontre acolhimento (comunidade) nas inumeras comunidades evangélicas que vamos descobrindo sempre actuantes e evangelizadoras?