quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ler a Bíblia

Alfa e Omega

SABER LER A BÍBLIA

Sendo a Bíblia a Palavra de Deus dirigida aos homens, é dever dos crentes dedicar-se à sua leitura, como insistentemente se recomenda na Igreja.
Há que reconhecer, no entanto, que a leitura da Bíblia e a sua compreensão oferecem algumas dificuldades, e muitos se desencorajam de a ler por não conseguirem muitas vezes “perceber” o que a Bíblia quer dizer. Aliás a interpretação literal do que vem escrito na Bíblia deu historicamente origem a muitos mal entendidos, o mais célebre dos quais terá sido a condenação de Galileu: a sua teoria de que a Terra gira à volta do Sol iria contrariar o que diz a Bíblia, onde Josué manda que o sol se detenha sobre Jericó. Se se ordenava ao Sol para se deter, é porque ele andava… Pelo mesmo princípio sabemos que há ainda hoje seitas cristãs que nas suas escolas proíbem que se ensine a teoria da evolução que, segundo eles, contraria o que explicitamente se diz no Génesis sobre a criação do mundo.
Para evitar equívocos que tais, transcrevemos um texto que coloca as coisas no seu devido lugar e ajuda, portanto a alcançar o sentido genuíno das palavras bíblicas.

Como todos em nossos dias reconhecem, Deus não pretendeu dar na Sagrada Escritura instruções sobre as ciências profanas, mas quis, por meio de tais livros, guiar os homens na sua vida moral, em ordem à salvação eterna. A Bíblia não é um manual de ciências naturais; para estas, Deus indicou ao homem as vias da investigação, mesmo com o risco de, por tal caminho, cair muitas vezes em erros e de se ver obrigado a abandonar conclusões que antes pareciam resultados seguros, e a procurar soluções novas. Também os escritores bíblicos, não obstante a inspiração divina de que gozavam, continuavam a ser filhos do seu tempo em relação aos seus conhecimentos científicos, que não podiam diferir dos conhecimentos comuns do ambiente em que viviam. O Espírito Santo não iluminou sequer tais escritores sobre as coisas que, só passados milénios, os homens viriam a conhecer. Por outro lado, não teria sido de nenhuma utilidade uma revelação divina sobre tais problemas científicos, porque os homens, não preparados ainda para a compreender, não teriam podido, de modo nenhum, aproveitar dela. Todas as tentativas de transportar à força para a Bíblia conhecimentos científicos, que só a investigação moderna descobriu, se resolveram invariavelmente em dano do prestígio da Sagrada Escritura. Como toda a Bíblia, também a narração genesíaca, em particular, nem impede de qualquer modo a investigação científica, nem pretende fornecer-lhe directrizes, desde que tal investigação não exclua a existência de um Deus ultraterreno e o facto da criação.”
P. Heinisch, in Probleme der Biblischen Urgeschichte.


©J.Tomáz Ferreira


quarta-feira, 23 de abril de 2008

O que pensa Steiner (um judeu) sobre a estética cristã...

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«O cristianismo, ao contrário do judaísmo, possui uma estética, interessou-se de longa data pelo lugar das artes na vida e na relação do homem com emoções transcendentes. O judaísmo, não. Como o islão, o judaísmo é profundamente iconoclasta, e, nobremente, imensamente, esforça-se por dispensar qualquer espécie de imagem.
O cristianismo que, em meu entender, é uma forma de politeísmo em razão das suas crenças trinitárias - um politeísmo muito elevado, muito nobre, mas não um monoteísmo -, está carregado de uma consciência do simbólico, do alegórico e do imaginário. Não penso que se possa escrever ou pensar por muito tempo sobre o papel dos motivos, dos temas e dos símbolos transcendentes nas artes, na literatura e na música sem se abordar o grande corpo do pensamento cristão, que vai de S.Agostinho e de São Tomás até hoje».
Steiner, George., Os Logocratas, Relógio d'Água, 2006

terça-feira, 22 de abril de 2008

Reflictamos com G. Vattimo em O Futuro da Religião

«Que hoje a maior parte dos católicos praticantes não considere necessária à sua própria fé a ética sexual defendida pela Igreja equivale a um apelo à privatização da religião. Se a Igreja continuar a apresentar-se como um poder autoritário arrisca-se à marginalidade e obriga indirectamente os seus fieis a privatizar a fé. Hoje são muito poucos os católicos que não são favoráveis a uma livre decisão relativamente ao controlo dos nascimentos, ao casamento dos padres, à ordenação sacerdotal feminina, ao uso do preservativo como precaução contra a Sida, à admissão à comunhão dos divorciados que voltaram a casar, à legalização do aborto e sobretudo à discussão pública, por parte dos mesmos fiéis, dos ensinamentos doutrinais, tal como muitas vezes observou Hans Kung. O futuro da Igreja Católica como instituição no século XX depende, nas palavras de Gregório Magno, da capacidade de o papa se colocar na igreja como o servo dos servos de Deus.
À Igreja Católica serve um primado pastoral, que se concentre nas tarefas ligadas à construção do presente, e não um primado jurídico. Uma igreja eurocêntrica e patriarcal tem que deixar espaço para uma igreja universal e tolerante, que garanta a autonomia das igrejas nacionais, regionais e locais. Um número incalculável de cristãos, de comunidades e de grupos em todo o mundo, está a viver um autêntico ecumenismo centrado no Evangelho apesar da resistencia oferecida pelas estruturas eclesiásticas: o desafio do futuro consiste em convencer a Igreja de que a caridade deve tomar o lugar da disciplina...».
In O Futuro da Religião, Richard Rorty e Gianni Vattimo, pp35, Org. Santiago Zabala, Angelus Novus, www.angelus-novus.com

domingo, 20 de abril de 2008

Dicionário da palavras...

...Para os agnósticos, assim como não é possível provar racionalmente a existência de Deus, é igualmente impossível provar a sua inexistência.
...Para os ateus Deus não existe.
...Para os crentes Deus existe.
Vejamos:
Deus não existe? Mas ao dizer Deus não estamos a enunciar o sujeito Deus?
Quem disse que a existencia de Deus não se pode provar racionalmente?
Ana Paula Lemos

Reflictamos com G. Vattimo - filósofo italiano

«O homem pós-moderno, se assumir até ao fundo a condição débil do ser e da existência, pode finalmente aprender a conviver consigo mesmo e com a sua finitude, para além da nostalgia residual pelo fim de toda a certeza metafísica. Aceitar a condição constitutivamente cindida, instável e plural que é caracteristica do nosso ser, destinado à diferença, à transitoriedade é à multiplicidade, significa ser capaz de particar activamente a solidariedade, a caridade e a ironia
in O Futuro da Religião, pp29, Richard Rorty e Gianni Vattimo, Org. Santiago Zabala,

sábado, 19 de abril de 2008

Antologia

BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO (Mt., 5, 8)

Semelhante a som harmonioso, ou a um perfume, que nos comovem sem se saber porquê, a pureza, só pelo nome, e muito mais ainda pelo seu aparecimento, desperta em nossa alma uma atracção, inevitável por si mesma, embora indefinível. A pureza, sentimo-lo confusamente, toca o segredo da nossa mais íntima contextura. Interessa as esperanças mais delicadas da nossa substância. Nós vivemos a pureza. Mas em que ponto de vista deveríamos situar-nos para tentar compreender um pouco a função criadora que ela desempenha em nós, pela graça de Deus?
Talvez no ponto de vista da Multidão.
O coração puro é aquele que, amando a Deus sobre todas as coisas, sabe também vê-lo presente em toda a parte. Quer se eleve acima de toda a criatura, até uma apreensão quase directa da Divindade, quer se lance – como é obrigação de todo o homem – no Mundo a aperfeiçoar e conquistar, o justo já não presta atenção senão a Deus. Para ele, os objectos perderam a sua multiplicidade de superfície… A alma pura, por seu privilégio natural, move-se no seio de uma unidade imensa e superior. Por este contacto, quem não vê que ela vai unificar-se até ao cerne de si mesma? E quem não adivinha, a partir de então, o auxiliar inapreciável que os progressos da Vida vão encontrar na Virtude?
Enquanto o pecador, que se abandona às suas paixões, dispersa e dissocia o seu espírito – o Santo, por um processo inverso, escapa à complexidade das afeições pela qual se matem nos seres a recordação e o vestígio da sua pluralidade original. Para ele tudo é Deus, Deus é tudo para ele, e Jesus é-lhe ao mesmo tempo Deus e tudo. Sobre semelhante objecto, que esgota na sua simplicidade – para os olhos, para o coração, para o espírito – a Verdade e a Beleza do céu e da Terra, convergem as faculdades da alma, tocam-se, soldam-se à chama de um acto único no qual a percepção se confundo com o amor. A acção específica da pureza (o seu efeito formal, diria a Escolástica) consiste, pois, em unificar as paixões interiores da alma no acto de uma paixão única, extraordinariamente rica e intensa. A alma pura, finalmente, é aquela que, sobrepujando a última e desorganizante atracção das coisas, tempera a sua unidade (isto é, amadurece a sua espiritualidade) nos ardores da simplicidade divina”.
Teilhard de Chardin, in La Lutte contre la Multitude (1917)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Bento XVI de visita à América...

Há qualquer «coisa» nele que me atrai. Bento XVI é um intelectual, aparenta ser um homem de gosto sofisticado, pelo menos a sua atitude revela-nos a primazia da boa educação no gestos, nas aborgadens humanas, e não tenho dúvidas nenhumas, é um homem requintadissimo.
Mas creio que não é nenhuma destas dimensões do Papa que me têm «obrigado» a paulatinamente construir com o seu magistério uma relação solidária e até muito intima.
Creio que me revejo no Papa pela dimensão cultural do seu pontificado. Com este Papa não haverá instransigências ao papel decisivio do pensamento cristão na construção da História da Europa e na construção do pensamento do Homem europeu.
Por outro lado, este Papa não entra no jogo mediático que caracterizam hoje as relações entre os cidadãos e as instituições.
Bento XVI não se importa de explicar (porque sabe, claro) os temas mais dificeis sobre os quais a Igreja teima em «não evoluir».
Nenhum desafio intelectual o intimida. Nenhuma falsa questão o inibe.
Creio ser esta dinâmica do seu comportamento que me atraí. Num mundo onde o politicamente correcto é fonte de observância laica, fico tranquila com Bento XVI. Ninguém esperará dele medo de enfrentar a verdade. Aliás esta caracteristica da sua personalidade ficou clarissima agora na América quando se referiu aos padres pedófilos daquela Igreja. «Sinto-me envergonhado» dizia o Papa. Nada de panos quentes, nem clemências ardilosas.
Só um homem livre diz o que pensa.

©Ana Paula Lemos

Vaticano - 2008

Foto de Helena Botelho

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Futuro da Religião...

Vattimo (um dos mais conhecidos filósofos italianos) aconselha em O Futuro da Religião, uma edição da Angelus-Novus agora editada em Portugal:
«...aquilo que do ponto de vista cristão, mas em geral ocidental, se pode e deve fazer para sair dos equívocos da guerra de religiãao é começarmos a viver nós mesmos a nossa religiosidade fora do esquema predilecto do iluminismo racionalista, e que prevê sómente duas possibilidades: ou o fanatismo de uma fé cega, ou o cepticismo de uma razão sem raízes, mas também sem uma efectiva capacidade de influenciar o mundo....»







©Fotos de Helena Botelho - Roma 2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O que é o cristianismo?

“Christianity is not an intellectual system, a collection of dogmas, or a moral system. Christianity is an encounter, a love story, an event.”

Papa Bento XVI, in Washingtonpost.com, 2008.04.14
Alfa e Omega


I N T E G R I S M O

Antes do Concílio Vaticano II taxavam-se de progressistas os que se batiam por uma renovação da Igreja que em grande medida o Concílio consagrou – o mesmo não se podendo infelizmente dizer da sua mise en pratique. Hoje a dicotomia é menos acentuada, mas continua a existir, e a acção de Ratzinger à frente da Congregação da Doutrina da Fé fez calar muitas vozes que se erguiam em favor da renovação, nomeadamente teológica, da Igreja. O problema é antigo, portanto, mas continua actual.
Pareceu-nos, por isso, que valeria a pena recordar algumas considerações do P. Teilhard de Chardin datadas de 1927 (!) e que encaram uma faceta do integrismo muitas vezes passada despercebida – a que leva a alienar da esfera cristã a preocupação com a materialidade das realidades terrenas. Aqui fica.

Não há dúvida de que, por vezes se tem a impressão de que as nossas igrejinhas nos escondem a Terra. Ocorre-me agora um pensamento que já tive vai para mais de dez anos. Quer-se identificar a ortodoxia cristã com um “integrismo”, isto é, com o respeito pelos menores mecanismos dum pequeno microcosmos construído há séculos. Na realidade, o verdadeiro ideal cristão é o “integralismo”, a saber, a extensão das directrizes cristãs à totalidade dos recursos contidos no Mundo. Integralismo ou integrismo, Dogma-eixo ou Dogma-quadro, eis a luta em curso, desde há mais de um século na Igreja. O integrismo é simples e cómodo, para os fiéis e para a autoridade. Mas exclui implicitamente do Reino de Deus (ou nega por princípio) as enormes potencialidades que se agitam por toda a parte à nossa volta, na ordem social, moral, filosófica, científica, etc. Aí está a razão por que lhe declarei guerra de uma vez para sempre.
Carta a Léontine Zanta de 7 de Maio de 1927.

J.Tomáz Ferreira

domingo, 13 de abril de 2008

Confissão de uma cristã, católica, apostólica, romana...

Hoje, domingo, não fui à missa. A razão é simples: não pude. Tive que trabalhar e não fui capaz de enquadrar a eucarístia no meu programa matinal. Mas amanhã vou à missa. Ás vezes vou à missa todos os dias. Há semanas, porém, que consigo fazê-lo sem grande esforço de agenda. Mas, paradoxalmente, existem outras semanas que muitas vezes nem ao domingo consigo ir.
Peço-vos desculpa mas não (pré) sinto que esteja em pecado e obviamente não conto confessar-me desta falta.
Quando ia na rua, caminhando no sentido do cumprimento das minhas tarefas, rezei, vivi Deus em mim e não duvidei, pela intensidade do encontro, que aquele momento foi a minha eucarístia dominical.
Bem sei que nunca tive catequese. Converti-me já tinha 30 anos e habituada que estava a viver livre e responsávelmente assim continuei, também nas coisas de Deus.
Aprendi a rezar com o missal centenário da minha avó sempre a desoras porque a familia não podia suspeitar que Jesus decidira chamar-me à sua vinha. O padre da minha paróquia indicou-me um santo casal que duas vezes por semana me preparava para a primeira comunhão. Aquando da minha primeirissima confissão disse ao prior que nunca tinha roubado, nem matado, nem feito grave «cousa», ao que eu num acto de contrição inequivocamemente sincero pedi ao Senhor Deus perdão pelos meus pecados, isto é, pela minha vida até então longe do seu amor, e foi então experimentar uma vida com Deus mais responsável e empenhada.
Desde esse dia que sempre que posso comungo. Mas hoje não pude comungar. Estou serena e confiante. Hoje, tive uma eucarístia muito especial. Abraçei Jesus numa rua de Lisboa, descia eu umas escadas ingremes junto à Penha de França.
Espero ter entendido o que Santa Teresa de Jesus escreveu um dia acerca da oração. E se entendi bem, a oração é um trato de amizade com Deus e ás vezes até entre panelas pode ocorrer.
Que bom!!!

©Ana Paula Lemos

sábado, 12 de abril de 2008

Da Arca Russa... um filme de Aleksandr Sokurov


O que sabes tu das pessoas eternas

Se não conheces a história dos Santos?


quinta-feira, 10 de abril de 2008

Vivaldi - Stabat Mater - Cujus animam gementem

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A Oração

Alfa e Omega

O R A Ç Ã O


Não consigo lembrar se li (e onde) se ouvi (e de quem) a mais bela definição de “oração” em que me revejo: “Rezar é pensar em Deus amando-o”.
Todas as formas de oração são legítimas com a condição de realizarem aquele princípio-mestre. A mais bela forma é sem dúvida o PAI NOSSO, a oração que o Senhor nos ensinou. Mas ao longo dos séculos, a piedade cristã foi engendrando outras, reflectindo nelas as suas angústias, os seus desejos as suas necessidades. Nada de surpreendente se também na oração que faz se reflecte o modo de ser de quem a faz: que cada qual reze como é. Um latino não se exprimirá na oração – como não se exprime na vida – do mesmo modo que um nórdico. É também aqui que se manifesta mais uma faceta da catolicidade da Igreja.
A oração que se segue tem como autor um anglo-saxão certamente anglicano. Trata-se duma oração muito bela que reflecte bem o pragmatismo que caracteriza aquelas gentes.

Oração para de manhã

´´O Deus nosso Pai, ajudai-nos durante todo este dia
De modo que possamos auxiliar os outros, tornar-nos melhores
E sermos a alegria Vossa e daqueles que nos amam.
Ajudai-nos a ser:
Alegres quando as coisas estão mal:
Perseverantes perante as dificuldades
Serenos quando nos podemos irritar.
Permiti que sejamos:
Úteis aos que se acham em dificuldades;
Amáveis para com os necessitados;
Compreensivos para com aqueles cujos corações estão feridos e tristes.
Concedei-nos que:
Nada possa fazer-nos perder o domínio de nós próprios;
Nada possa tirar-nos a alegria;
Nada possa perturbar a nossa paz;
Nada possa tornar-nos amargos para com qualquer homem.
Assim, concedei-nos por todo este dia que aqueles com quem trabalhamos e todos os que encontrarmos possam ver em nós o reflexo do Mestre a quem pertencemos e a quem procuramos servir.
Isto pedimos, em nome do teu amor.
(Dr. W. Barclay’s, in The Scouter,Março de 1961)

J. Tomaz Ferreira

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Vida de Jesus Cristo - O Homem que mudou o mundo - uma edição da Editorial Presença

Antologia
Ainda não li o livro todo (estou quase no fim) mas atrevo-me a desafiá-los a lê-lo logo que possam.
«Nos últimos cinquenta anos, novas descobertas arqueológicas e estudos filológicos têm permitido somar mais dados à tentativa de responder a uma das perguntas fundamentais da história da humanidade: quem foi na verdade em toda a sua dimensão concreta, o home cuja existência viria a mudar o mundo de forma irreversível?»
Foi justamente para se fazer uma síntese clara das últimas investigações que o jornalista e escritor Corrado Augias entrevistou Mauro Pesce, um dos mais notáveis biblistas italianos.
«O resultado é que este livro traz à luz alguns dos aspectos menos conhecidos, e decerto surpreendestes, da vida do homem real para além do mito e das efabulações».
Ana Paula Lemos

sábado, 5 de abril de 2008

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Bem-Vindo ao Deserto do Real

«O universo radical do ateu, privado de referência religiosa, é o universo cinzento do terror igualitarista e da tirania...

Os homens que começam por atacar a Igreja em nome da liberdade e da humanidade acabam por dar cabo da liberdade se quiserem combater apenas a Igreja(...)Conheço um homem que põe tanta paixão a negar qualquer existencia pessoal depois da morte que chega a negar a própria existência actual(...)Conheci pessoas que demonstravam não poder haver julgamento divino demonstrando que não pode haver julgamento humano(...)Os secularistas não destruiram as coisas divinas; destruiram as coisas deste mundo, se isso lhes deu qualquer reconforto»1


Slavoj Zizek, Bem-Vindo ao Deserto do Real, pp, 111-112

1 Gilbert Keith Chesterton, Orthodoxy, op.cit.,pp. 146-147

Ana Paula Lemos

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Páscoa da Ressureição

Alfa e Omega

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO

Nos países em que a cultura prevalecente entronca na tradição cristã, o calendário encontra-se pontuado por datas festivas que colhem o seu sentido justamente naquela tradição. São datas festivas, porque nelas se celebram festas religiosas, comemorando acontecimentos marcantes da História da Salvação, tal como os cristãos a encaram.
É o caso, nomeadamente, do Natal e da Páscoa, que ultrapassam em muito as fronteiras dos que se reclamam do espírito cristão e são celebradas mesmo por agnósticos e descrentes e projectam a sua importância até no calendário civil, que declarou feriado o dia de Natal e a Sexta-Feira Santa, o dia que comemora a morte de Jesus que antecede a grande festa da Ressurreição.
Nos tempos que correm, muitos são os que perderam as referências cristãs que dão a estas datas o seu genuíno sentido. O facto é compreensível para os que não fazem parte da família cristã. Mas mesmo para estes, conhecer esse sentido é um dever de cultura e o seu desconhecimento revela um défice de aculturação dificilmente compreensível. Mas que dizer dos cristãos para quem Natal e Páscoa são apenas datas que pontuam o calendário com ocasiões de lazer? Que dizer dos cristãos para quem o mais profundo, em termos de sentido, é apodar o Natal e a Páscoa de “festas da família”?
Isto, para não falar das perversões consumistas que fizeram do Natal sinónimo de presentes que se oferecem e recebem, e por causa das quais falar em Páscoa é evocar amêndoas e ovos e coelhinhos de chocolate. Onde fica, na maré do consumo, a lembrança, a comemoração, a celebração do mistério-acontecimento que determinou a festa?
Páscoa é a festa da Ressurreição. É a celebração do facto histórico da morte ignominiosa de um homem que era Filho de Deus e que Deus restituiu à vida no terceiro dia após a sua morte. E porque é isso acima de tudo e antes de tudo, é que a Páscoa é a grande festa dos cristãos que, na vitória de Cristo sobre a morte, fundamentam a sua Fé em que também sobre eles a morte não tem poder. Como Cristo, também eles hão-de ressuscitar um dia para a vida eterna. A verdade da morte a Ressurreição de Cristo é a pedra angular e o alicerce da Fé dos cristãos. Pois, como dizia S. Paulo, “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa Fé e nós os mais infelizes dos homens”.
J. Tomaz Ferreira

Ética das Virtudes - texto de Nigel Warburton (Philosophy: the Basics, pp.

ÉTICA DAS VIRTUDES
(este texto é citado pelo Prof Carlos João Correia no site de Filosofia da Religião - http://filosofiadareligiao.no.sapo.pt )

“A teoria da virtude baseia‑se em grande parte na Ética a Nicómaco de Aristóteles, sendo por isso por vezes conhecida como neo‑aristotelismo […]. Ao contrário dos kantianos e dos utilitaristas, que se concentram tipicamente na rectidão ou não de acções particulares, os teóricos da virtude concentram‑se no carácter e estão interessados na vida da pessoa como um todo. A questão central para os teóricos da virtude é «Como devo viver?”. A resposta por eles dada a esta questão é: cultive as virtudes. Só cultivando as virtudes poderemos prosperar como seres humanos.
De acordo com Aristóteles, toda a gente quer prosperar. A palavra grega usada para «prosperar» era eudaimonia, por vezes traduzida por «felicidade». Mas esta tradução pode gerar confusões, uma vez que Aristóteles acreditava que podíamos ter muito prazer físico, por exemplo, sem alcançar a eudaimonia. A eudaimonia aplica‑se a toda uma vida e não apenas a estados particulares em que nos podemos encontrar em certos momentos. Talvez «verdadeira felicidade» seja uma tradução melhor, mas dá a ideia errada de que a eudaimonia é um estado de espírito de bem‑aventurança que se alcança, em vez de ser uma forma de viver a vida com sucesso. Aristóteles acreditava que certas formas de vida promoviam a prosperidade, tal como certas formas de cuidar de uma cerejeira farão que cresça, floresça e dê frutos.
Aristóteles defendia que a maneira de prosperar como ser humano é cultivar as virtudes. Mas o que é uma virtude? É um padrão de comportamento e sentimento: uma tendência para agir de certa maneira e desejar e sentir certas coisas em certas situações. Ao contrário de Kant, Aristóteles pensava que ter as emoções apropriadas era essencial para a arte de viver bem. Uma virtude não é um hábito irreflectido; ao invés, implica um juízo inteligente sobre a resposta apropriada à situação em que nos encontramos...».
O que pensam os católicos acerca da ÉTICA das VIRTUDES?
Ana Paula Lemos