sexta-feira, 30 de maio de 2008

Que Muero Porque No Muero

Antologia

MUERO PORQUE NO MUERO


Vivo sin vivir en mí
Y tan alta vida espero
Que muero porque no muero.
Vivo ya fuera de mí
Desoués que muero de amor,
Porque vivo en el Señor
Que me quis opa Sí.
Cuabdo el corazón le di
Puso en él este letrero:
Que muero porque no muero.
Esta divina prisión
Del amor com que yo vivo
Há hecho a Dios mi cautivo
Y libré mi corazón;
Y causa en mí tal pasión
Ver a Dios mi prisionero,
Que muero porque no muero.
Ay que larga es esta vida
Qué duros estos destierros,
Esta cárcel, estos yerros
En que el alma está metida!
Solo esperar la salida
Me causa dolor tan fiero,
Que muero porque no muero.


Santa Teresa de Ávila

domingo, 25 de maio de 2008

Do homem...

A propósito do Pr. Mário Aguiar da Praça Lages


Então não é que estava atrapalhado pois não sabia como começar esta carta,
que não é uma carta, não o pode ser! Estás lá no céu, há sessenta e um anos, em linguagem terrestre, quando nunca deixaste de estar cá na terra comigo, e certamente com outros, os irmãos que só virei a conhecer quando chegar aí junto de Deus...Claro, que mesmo aí no céu a festa será rija, desajeitadas palavras para tão grandes alegrias e sentimentos.
Eu senti sempre a tua presença desde aquele dia em que deixaste de ser corpo
para seres só alma, a 29 de Abril de 1947.
Começaste por «me apanhares a fazer versos» - pois claro que te lembras –
naquela manifestação de puberdade que no seminário se tentava ignorar, e
em vez da clássica bofetada que o Virgílio Ferreira nunca esqueceu, tu tiveste
«a ousadia de me pedir licença para os leres… e depois, para os levares para
o teu quarto para os leres mais atentamente.» Mais ou menos vinte e quatro
horas depois, devolvias-mos, enrolados em poemas teus…
Foste certamente o maior místico que passou pelos seminários do Fundão e
da Guarda, embora isso não conste de nenhuma acta e, que o teu nome não tenha merecido mais que uma linha numa publicação recente… A luz que iluminava a tua alma, reflectiu-se até hoje sobre a minha. Por isso, deste então, quase tudo me pareceu relativo. Embora haja traços ou momentos que não foram fáceis de viver, a começar pelo extravio dos manuscritos dos teus poemas que eu - imperdoável ingenuidade - confiei ao senhor director espiritual … foi uma facada não só em mim, mas na alma de tantos e tantos… Guardo de ti só uns santinhos, um da tua ordenação sacerdotal, com a tua dedicatória: «ou tudo, ou nada, nesse caso, tudo»! e dois livros aos quais tiveste a bondade de apor a tua dedicatória. E ficou a recordação de toda a literatura mística que me deste a conhecer e a viver!
Um colega teu e nosso amigo comum, dedicou-te este poema que aqui
transcrevo, em jeito de recordação de ambos.


ELEGIA PARA O COMPANHEIRO PERDIDO


Seu destino foi o das raízes que apodrecem no chão
antes de vir a noite. Antes de vir a noite.
Veio como uma promessa
Cresceu
Deu folhas e flores
Mas os frutos abortaram antes de nascer.
A geada o queimou:
Aquela geada branca
Como a branca neve
Que parece maná
E é sol de cresta impenitente…
Aquela geada branca
Como as brancas flores
Que com ele desceram ao coval
Onde se recolheu a última esperança.
Seu destino foi o das raízes que apodrecem cedo.
Veio como uma promessa
Cresceu
Deu folhas e flores
E recolheu-se em si numa floração triste de lábios roxos.
Deus o sumiu na eternidade.
O seu destino foi o de todas as esperanças ceifadas
A renascer constantemente das cinzas da própria cresta.

Fernando Moura

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ó Deus, se existes onde estás?

Mistério do Alto

Ó Deus! se existes onde estás?
Em recesso e na escureza está o teu poder oculto?
Ou quem foi que te puniu pondo-te cego?
Não vês, não entendes tu o que sucede em baixo?
A terra se acha convulsa, o universo derruído,
a tua criação por inteiro dentro do sangue, submersa,
e o filho do homem não mais que fera, serpente,
amigos dos assassinos, dos destrutores, dos soberbos.
Este o homem que fizeste á tua imagem e semelhança?
Este o teu plano? Esta a tua essência?
Nunca possível!. Em honra ao nome que a ti deu reverência
direi que tu, Deus, não formaste o homem,
bem ao contrário, o homem foi que veio a dar-te forma,
e à sua imagem e semelhança faz-se a tua natureza.

Iehudá Levin
(1845-1925)
In Rosa do Mundo, Assírio & Alvim

terça-feira, 20 de maio de 2008

Guerra ao integrismo...

Antologia

A NOSSA IGREJA

Como vê, sufocamos nos nossos compartimentos, nas nossas categorias fechadas. Sem romper os organismos mais restritos, impõe-se fundi-los, sintetizá-los: o Homem, nada senão o Homem, nada menos do que o Homem como quadro das nossas ambições e das nossas organizações. Como é possível que seja preciso repeti-lo a católicos? Não há dúvida de que por vezes se tem a impressão de que as nossas igrejinhas nos escondem a Terra. Ocorre-me agora um pensamento que já tive vai para mais de dez anos. Quer-se identificar a ortodoxia cristã com um “integrismo”, isto é, com o respeito pelos mais pequenos mecanismos dum pequeno microcosmos construído há séculos. Na realidade, o verdadeiro ideal cristão é o “integralismo”, a saber, a extensão das directrizes cristãs à totalidade dos recursos contidos no Mundo. Integralismo ou integrismo, Dogma-eixo ou Dogma-quadro, eis a luta em curso, desde há mais de um século na Igreja. O integrismo é simples e cómodo, para os fiéis e para a autoridade. Mas exclui implicitamente do Reino de Deus (ou nega por princípio) as enormes potencialidades que se agitam por toda a parte à nossa volta, na ordem social, moral, filosófica, científica, etc. Aí está a razão por que lhe declarei guerra de uma vez para sempre.

Teilhard de Chardin
, Carta a Léontine Zanta de 22 de Agosto de 1928.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Creio...

Antologia

SANTÍSSIMA TRINDADE

Creio,
Ó vós, Três pessoas Imensas e Eternas que não tivestes princípio e nunca tereis fim:

Que ao termo desta vida terrena,
Apenas o coração deixe de bater
E alguma mão piedosa me cerre os olhos cansados;

Mira-Celi se refugiará em mim,
E eu comparecerei diante de Vós,
Ó Formas Imensas da Trindade Perfeita;
E a minha vida verdadeira então começará;
E Mira-Celi voltará outra vez para algum dos meus irmãos na Terra.

Poderei olhar-vos face a face,
Ó Pessoas incriadas e Imortais
Que engendrastes as gerações de que provim
E as raças que antes de mim desapareceram.
Viverei em Vós, ó Infinitas Formas Imortais,
Como Adão e Moisés mortos e ressuscitados em Vós,
Como os ressuscitados poetas David e Salomão,
E todos os mortos ressuscitados em Vós.
Viverei em Vós, como o primeiro e o último dos ressuscitados.
E tudo existirá. E tudo será visível.
Serei, ó Formas Eternas, ó Majestosas Pessoas Trinas,
Novamente como no Princípio.

Jorge de Lima, Anunciação e Encontro de Mira-CeliAntologia

domingo, 18 de maio de 2008

Uma Igreja que aprenda

Antologia

A NOSSA IGREJA

Hoje a nossa Igreja é um arquipélago. Vive-se para a liturgia, não é evangelizadora. Acho que a Igreja não está a “funcionar”, a comportar-se como Jesus quer. Já ninguém sai da missa “incomodado” na sua consciência com a liturgia… A Igreja perdeu a capacidade de “sujar” as mãos com a vida dos homens. A Igreja deveria manifestar-se mais. (…) A igreja evangeliza por sinais e a nossa, em Portugal, não tem dado sinais. (…) Gostava de uma Igreja que não condenasse, que dialogasse, que derrubasse muros, que comungasse os problemas do mundo, que ouvisse os clamores das pessoas e lhes soubesse responder. Quero uma Igreja que aprenda com o mundo e descubra uma maneira nova de estar.
D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, in Expresso (Única) de 08.05.17

sábado, 17 de maio de 2008

Dimensão cósmica da Redenção

Alfa e Omega
AS DIMENSÕES DA REDENÇÂO

Nas catacumbas de S. Calixto, há uma cela cujo tecto ostenta uma curiosa gravura em que Cristo é apresentado no centro de um cosmos figurado pelos ventos das várias direcções do espaço. Teríamos aqui, segundo muitos, a primeira e tosca representação plástica da dimensão cósmica da Redenção. Segundo a mais antiga tradição cristã (na linha aliás das profecias veterotestamentárias), não foi apenas ao homem que se dirigiu a acção redentora de Jesus, mas ao universo inteiro. Se tempo houvesse, aqui me apetecia transcrever S. Efrém Sírio com os seus Hinos sobre o Paraíso onde, na sua humanidade, Cristo é apresentado como o renovador da ordem primordial e segundo Adão: como p primeiro arrastou na sua queda o mundo criado (Cf. Gen. 3, 17-19), assim, na sua redenção, Cristo restitui a criação ao seu estado primigénio. Ou S. Máximo Confessor, que celebra em Cristo “o fim bem-aventurado para o qual foi concebido e realizado o Universo. Ou ainda aquele poema de um discípulo de S. Hipólito em louvor da Cruz: “Nos seus quatro braços, a cruz de Cristo contém tudo o que existe no céu, na terra e sob a terra: todo o visível e o invisível, todo o vivente e o não vivente”. E poderíamos acrescentar ainda Gregório de Nyssa ou Rábano Mauro.
É pena que esta dimensão cósmica da Redenção tenha de certo modo sido esquecida como conteúdo da catequese corrente, já que, além da tradição evocada, ela tem também sólidas raízes apostólicas: Pedro, João e Paulo enunciaram-na, cada qual a seu modo, mas todos de maneira inequívoca.
Como é sabido, o cristianismo não adoptou a concepção circular do tempo, cara aos gregos, segundo a qual a história e o tempo se moldariam como um eterno retorno. Para os cristãos, o universo teve um começo e caminha linearmente para um termo. Entre os dois pólos do começo e do termo, enxerta-se a vinda do Redentor que literalmente divide o tempo em duas partes: antes e depois de Cristo. O tempo que vivemos é a era messiânica, aquela em que se consuma no mundo a obra redentora de Jesus e que terminará com a sua segunda vinda.
É quando se detêm a ensinar o que vai acontecer no fim dos tempos, que aqueles apóstolos claramente apontam a dimensão cósmica da acção do Redentor, que passa pela transformação deste mundo que passará para dar lugar a um mundo novo. Como ensina Pedro: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos uns novos céus e uma nova terra onde habite a justiça”. (2Pet. 3, 13).
S. João retoma, no Apocalipse, a ideia de Pedro: “Vi então um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia”. (Apoc., 21, 1). E mais adiante: “O que estava sentado no trono afirmou: Eu faço novas todas as coisas”. (Apoc., 21, 5)
Embora claros, pode a alguém ocorrer que os textos citados devam ser entendidos em sentido figurado. S. Paulo ajuda-nos a afastar tal ideia em dois textos fundamentais: o primeiro, na Epístola aos Romanos em que se refere à redenção in fieri e onde a criação é apresentada na sua materialidade concreta; o segundo na primeira Epístola aos Coríntios, onde a redenção se apresenta in facto esse, na sua consumação, e que igualmente contempla a criação de forma muito concreta. Vejamos:
“Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de revelar em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa aguardando a revelação dos filhos de Deus. De facto, a criação foi sujeita à destruição – não voluntariamente, mas por disposição daquele que a sujeitou – na esperança de que também ela será libertada da escravidão da corrupção para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores do parto até ao presente”. (Rom., 8, 18-22)
“Depôs será o fim: quando ele entregar o Reino a Deus e Pai, depois de ter destruído todo o principado, toda a dominação e poder. Pois é necessário que Ele (Cristo) reine até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés… E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá Àquele que tudo lhe submeteu, a fim de que Deus seja tudo em todas as coisas”. (1Cor., 15, 24-28).
J. Tomaz Ferreira

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Tanto tempo quanto tempo há...

A MISSA No SÉCULO II

“O dia a que chamam Dia do Sol, todos os que habitam nas cidades ou nos campos se juntam em reunião. Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os Escritos dos Profetas, tanto tempo quanto tempo há. Quando o que lê termina, o que preside faz um discurso para advertir e exortar à imitação daqueles belos exemplos. Seguidamente, levantamo-nos todos e rezamos todos em voz alta. Depois, quando a oração terminou, trazem pão, água e vinho. O que preside levanta ao céu, tanto quanto pode, as orações e as eucaristias. E todo o povo responde, dizendo: Ámen. Depois efectua-se a distribuição e a divisão por cada um das espécies consagradas, e, pelo ministério dos diáconos, envia-se aos ausentes a parte que lhes cabe. Aqueles que vivem na abundância e que querem dar, dão livremente, cada qual segundo a sua vontade; e o que assim se recebe é entregue àquele que preside, e ele assiste aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos indigentes, aos prisioneiros, aos peregrinos, numa palavra, a todos os que padecem necessidade.
S. Justino, 1ª Apologia.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Os meus ouvidos ouviram...

Ouvi a entrevista que o Arcebispo de Braga D.Jorge Ortiga deu a Constança Cunha e Sá, jornalista na TVI.
Conheci e trabalhei com D.Jorge em 1995 em Braga e já nessa altura o actual Porta Voz da Conferência Episcopal manifestava uma imensa disponibilidade em ler o mundo contemporâneo nas suas múltiplas expressões e uma enorme preocupação com as questões socias do mundo moderno.
É sem dúvida nenhuma um homem do seu tempo. Isto é, um homem do nosso tempo, um homem que procura compreender as fragilidades e vicissitudes da contemporaneidade sem ambiguidades ou complexos.
O que D.Jorge Ortiga nunca fez e estou certa nunca fará é sobrepor a mensagem cristã e a doutrina da Igreja, aos interesses do homem moderno, nas suas expressões de laicidade e hedonismo.
Mas isto não significa que não seja um homem do seu tempo. Significa apenas que é um homem para além do tempo, e claro, também aqui um homem com sentido do tempo, isto é, com sentido para o homem de todos os tempos.
Por isso, com total clareza explicou que a Igreja jamais aceitará o casamento entre homossexuais o que não significa como explicou, que a Igreja não acolhe os seus fieis homossexuais e como todos os cristãos sabem existem na Igreja grupos de reflexão composto por homossexuais, e por outro lado, assume tal como fez o Santo Padre, que cada vez somos menos e haverá mesmo um tempo em que nós, os cristãos estaremos em minoria.
Este tempo como explicou D.Jorge será um tempo de purificação. Estou certa que será um tempo muito rico para nós, os cristãos, sem medos, e nada conformados com o nosso tempo.

©Ana Paula Lemos

Um livro de leitura imprescíndivel...

Como todos os livro de George Steiner...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Evangelizar...

*Alfa e Omega

Evangelizar

Não é com uma religião como que esvaziada dos seus esplêndidos mistérios, retalhada pelo individualismo elegante ou pretensioso, amolecida pelo sentimentalismo e divorciada das energias vitais das grandes massas do povo, que se resistirá eficazmente às furiosas investidas do ateísmo militante. (…) Falta por enquanto lançar o fermento da renovação nos centros das paróquias, para irradiar a vida até à grande massa do povo, de cada vez mais alheio à catolicidade da Igreja e aos demais mistérios em que dizemos acreditar quando recitamos o símbolo da nossa Fé. Com efeito, o povo crê ainda em Nossa Senhora, mas perdeu a noção de Deus que é o nosso verdadeiro Pai; de que Jesus é, de facto, o nosso irmão mais velho; de que o Espírito Santo é a nossa vida sobrenatural, vivendo efectivamente em nós. Não sabe o que significa a Comunhão dos Santos, nem conserva, senão vagamente, o sentido escatológico da vida, que desabrochará um dia na ressurreição da carne…
Não será tão pouco com um catolicismo conformista, conservador de um passado recente de jansenismo e de liberalismo; com um catolicismo que aceita o angelismo religioso e se deixa fechar dentro das quatro paredes dos templos ou das sacristias – quando o mundo moderno delas desertou para encher as fábricas, as praças públicas, os estádios, os campos de férias – que se terá resistência bastante para suportar por largo tempo o fogo cruzado do comunismo, do capitalismo ateu, da maçonaria luciferina. Só quebrando as cadeias douradas que o manietam ou as grades de ferro que o enjaulam, poderá ele de novo ser o sal da terra e a luz do mundo.
*assuntos religiosos

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Passagens

O mundo visto de dentro...

Reino da astúcia

“Livre-nos Deus dos manipuladores
Cujo reino é o da astúcia
Que magoam e aniquilam os outros,
Roubando-lhes o seu bom nome.
Afastai para longe pessoas cruéis, maquiavélicas
Predadores
Que conquistam o coração de quem
por ingenuidade, bondade e distracção,
se permitem ouvir e gostar da música que tocam.”
Poema Enviado por Lurdes Fidalgo

sábado, 3 de maio de 2008

Eva

Antologia

E V A

Oferecia ao céu azul
A santa nudez;
Eva loura admirava a alva,
A sua irmã vermelha.

Carne da mulher!
Argila ideal! Oh maravilha!
Oh penetração sublime do espírito!
No barro que o Ser inefável modela!
Matéria onde a alma brilha através do seu sudário!
Lama na qual se vêem os dedos do divino estatuário!
Lodo augusto que apela ao beijo e ao coração,
Tão santa que nem se sabe, de tal modo o amor é vencedor,
E a alma, empurrada para este leito misterioso,
Se esta voluptuosidade não é um pensamento,
Nem se pode, no momento em que os sentidos estão em fogo,
Cingir a beleza sem acreditar abraçar Deus!


Victor Hugo, A Lenda dos Séculos

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A Influência da Bíblia na Cultura Ocidental segundo Steiner

«Como estariam despidas as paredes dos nossos museus, depojadas das obras de arte que ilustram, interpretam ou se referem a temas bíblicos. Quanto silêncio haveria na nossa música ocidental, desde o canto gregoriano a Bach, de Handel a Stravinsky e Britten, se eliminássemos trechos de textos bíblicos, dramatizações e motivos. O mesmo se pode dizer da literatura ocidental. A nossa poesia, o nosso drama e a nossa ficção seriam irreconhecíveis se omitíssemos a presença continua da Bíblia. Nem tão pouco existe uma maneira categórica de descrever essa presença. Vai desde o enorme volume de paráfrase bíblica até às alusões mais tagenciais ou dissimuladas. Inclui todos os modos de intertextualidade, de incorporação dentro e entre linhas...».
Steiner, George A Bíblia Hebraica e a Divisão entre Judeus e Cristãos
Relógio d'Água, Lisboa, 2006

Rezando...

Ó Deus, nosso Pai,
Que nos disseste para vivermos em amizade uns com os outros,
Defendei-nos de tudo o que possa tornar difícil este dia.

Ajudai-nos a não falar sem pensar
Ou de modo a que possamos magoar os sentimentos dos outros
Ou ferir os seus corações.

Defendei-nos de toda a impaciência, de toda a irritação
E dos modos bruscos.

Defendei-nos de pôr os olhos nas faltas dos outros
Ou de usar a língua para criticar.

Defendei-nos da irascibilidade, da precipitação em nos sentirmos ofendidos,
E ajudai-nos a esquecer.

Ajudai-nos a não sermos teimosos e obstinados,
E livrai-nos do egoísmo que não deixa ver senão o nosso ponto de vista
E que tudo deseja a seu modo.

Concedei-nos, durante todo este dia,
A graça e a beleza que brilhou sobre o nosso bendito Senhor Jesus,
E, em nome d’Ele, ouvi a nossa oração.

W.Barclay, The Scouter, Junho de 1961