segunda-feira, 30 de junho de 2008

Senhor, Obrigado...

OBRIGADO, SENHOR…

Tu podias, Senhor, ter-nos oferecido um mundo já perfeito,
Sem nada a procurar ou a encontrar,
cidades perfeitas e pontes lançadas sobre rios “domesticados”,
habitações construídas e estradas traçadas sobre montanhas perfuradas e aplanadas,
grandes fábricas-paraíso, para trabalhadores satisfeitos
planos a aplicar sem erros possíveis.
Mas nós somos homens, de pé, livres, e construtores do Mundo.

Ó Senhor, Obrigado,

Porque tu não quiseste fazer de nós executantes sem alma
de ordens vindas do Céu,
mas responsáveis pelo Universo, orgulhosos criadores,
sob o Teu olhar de Pai.


Michel Quoist, Falai-me de Amor, Ed.Paulistas, pag. 87.

domingo, 22 de junho de 2008

Património Europeu - Ressureição - Basílica S.Maria Degli Angeli e Dei Martiri - Roma 2008


Sobre os ateístas e a Europa...

Não consigo compreender como pode o homem europeu construir o seu património civilizacional sem interiorizar nas suas valências paradigmáticas intelectuais a herança cultural cristã.
Compreendo o rigor com que os ateístas reivindicam se trate o papel da Igreja na História dos Homens, no fundo este rigor apenas quer validar as trágicas participações do poder eclesiástico na construção do tecido social europeu, nesta matéria estou de acordo com a exigência do rigor, mas depois de ultrapassada esta questão, o que fazem os ateístas ao património cultural cristão, como as pinturas de Caravaggio, de Leonardo ou de Rafael?
Que material didáctico constroem os ateístas para registar e testemunhar a história da Europa?
Que livros escrevem os ateístas acerca da construção da cidadania europeia?
Que leitura têm os ateístas da ideia de Europa?

Estou curiosa de analisar o trabalho que a Associação Ateísta portuguesa se propõe fazer em prol da cultura europeia e isto por uma razão simples: nunca conheci nenhum ateísta que soubesse falar com seriedade da espiritualidade cristã. Mas estou desejosa que me encontrar com essa mulher ou com esse homem.

©Ana Paula Lemos

domingo, 1 de junho de 2008

Uma mulher excepcional

Maria de Lourdes Belchior

Conheci Maria de Lourdes Belchior no Rio de Janeiro, em 1963, de forma tão
inesperada como surpreendente. Era a primeira vez que me encontrava no Rio de Janeiro, a começar uma investigação para a tese de doutoramento, e quem me anuncia e recomenda uma visita à Drª Profª Drª Maria de Lourdes Belchior foi Afonso Arinos de Melo Franco, uma das personagens mais ilustres da politica e da cultura brasileiras.
Era ela adido cultural da nossa Embaixada e, em boa verdade, o governo por-tuguês não podia ter feito melhor escolha para fazer esquecer o contrangimento que se instalara nos dois lados do Atlântico, consequência lógica da recepção que o Brasil fez, em Janeiro de 1961, ao navio « Santa Maria» que o Capitão Henrique Galvão desviara da sua rota para atracar, finalmente a um porto brasileiro, já sob a presidência de Jânio Quadros.
O mundo intelectual e político brasileiro rapidamente se deixou seduzir por
esta senhora de uma distinção tão natural, que até a sua elevada craveira intelectual só vinha ao de cima, quando as circunstâncias a isso se prestavam.
Mas todos estes atributos eram coisa menor perante a bondade que irradiava
da sua pessoa.
Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Presidente do Instituto de Alta Cultura, Sub-Secretária do Estado da Cultura e da Investigação Científica, a maior especialista da nossa literatura do século XVIII, galardoada com numerosas condecorações e prémios, publicou, faz agora vinte anos, um livrinho de poemas - Cancioneiro para Nossa Senhora – Poemas para uma Via Sacra, precedido, aliás da « Gramática do Mundo» em 1985». Entretanto, foi ainda professora na Universidade de Santa Bárbara, e de 1989 até à sua morte, em 1998, foi Directora do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris. Maria de Lourdes Belchior é uma figura ímpar da nos-
sa lusitanidade, do século passado. A sua memória não pode ser esquecida, e se um editor, com um pouco de sentimento e generosidade, se decidisse a reeditar
este livrinho de 68 páginas ? Não, certamente não será a sua irmã que a isso vai
obstar!

IN MEMORIAM


NOSSA SENHORA DO SÉCULO XX


Satélite do grande sol de Deus
Sputnik pisando leve a lua
galáxia expreso, galáxia fox
galáxia, caminho estrelado de
nomes vários, Senhora do século XX
Tem piedade de nós

Na viragem do tempo angustiado
no mar encapelado sempre encapelado
há-de ser o mar? no mar da vida
acode-nos, Senhora, e toma o leme
da embarcação senão sossobramos
Tem piedade de nós, Senhora

Embarcação electrónica, supersónica
a nova arca de Noé, apetrechada
para vencer as terríveis tempestades
fechada a sete chaves navegará
Tem piedade de nós, Senhora

Navegará. Se o fim dos tempos chegar
Para onde o porto de salvação?
Haverá inda e porto e terra e mar?
Quando o fim dos tempos chegar
Como será? Tudo vai sossobrar?
Tem piedade de nós, Senhora.

Robots, raios lasers, computadores
monstros mecânicos do futuro
paisagens lunares de desolação,
destruição, caos, fim da humanidade
Tem piedade de nós, Senhora

Senhora do século XX e de todos os séculos
engenho e ponte, « ranger» cortando o espaço
alumínio puríssimo, suporte sem peso,
síntese de todos os metais amalgamados
acesso à distância sem termo
porta aberta para o infinitamente longe
Tu Mãe, Senhora e medianeira
Tem piedade de nós
Ensina-nos, Senhora,
nave espacial segura
na agrura dos dias
a rota derradeira
a rota verdadeira


Lisboa, 31 de Maio de 2008
Fernando Moura

O cristianismo e o ambientalismo

Antologia

OS MISSIONÁRIOS ECOLOGISTAS

A ciência (…) está a ser simultaneamente atacada por elementos do movimento ambientalista – um movimento que está a ganhar, cada vez mais, um carácter religioso.
O professor Robert N. Nelson, da Universidade da Maryland, escreve o seguinte: “Com o aproximar do final do século XX, instalou-se um vazio religioso na sociedade ocidental. (…) Nestas circunstâncias, o movimento ambientalista contemporâneo surgiu como uma forma de preencher esse vazio. (…) Para muitos dos seus actuais seguidores, o ambientalismo tem sido um substituto das linhas orientadoras cristãs, que se vão esbatendo, bem como das fés progressistas.”
Se bem que os ambientalistas se apoiem, obviamente, em dados científicos, o ambientalismo está “imbuído de um forte espírito missionário”, salienta Nelson. Além disso, a sua própria linguagem é “manifestamente religiosa”: “salvar” a Terra do despojo e da pilhagem; construir ‘catedrais’ no deserto; criar uma nova ‘Arca de Noé’ com leis como a das Espécies em Vias de Extinção; ir à procura de um novo ‘chamamento’ para preservar as regiões desabitadas que ainda subsistem; e tomar medidas para proteger o que resta da ‘Criação’ na Terra”.
No “centro da mensagem ambiental está uma nova história da queda da espécie humana de uma éposa anterior, maias feliz, mais natural e inocente – uma visão secular da queda bíblica do jardim do Éden”, realça Nelson.
Segundo este autor, “apesar da sua aparência moderna, o ambientalismo aproxima-se mais de uma antiquada forma de fundamentalismo religioso”.
Toffler, Alvin e Heidi, A Revolução da Riqueza
Actual Editora, Lisboa, pag. 159.