domingo, 15 de fevereiro de 2009

PARA UMA ESPIRITUALIDADE DA TERRA


Celui qui aimera passionnément Jesus
caché dans les forces qui font grandir la Terre,
la Terre, maternellement,
le soulevera dans ses brás géants
et elle lui fera contempler le visage de Dieu.


Celui qui aimera passionnément Jesus
caché dans les forces qui font mourir la Terre,
la Terre, en défaillant,
le serrera dans ses brás géants
et avec elle il se réveillera dans le sein de Dieu.
P. Teilhard de Chardin

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

FALANDO DE DEUS

Parecem-me pouco convictos os ateus dos nossos dias. Para eles, a não existência de Deus deixou de ser um dado adquirido para baixar à categoria de mera probabilidade. Postas as coisas nestes termos, fácil lhes será concordar com a possibilidade da existência de Deus. E, ao lado da frase “provavelmente Deus não existe”, não teria lógica recusarem a afirmação: “é possível que Deus exista”. Daqui a admitir que Deus existe mesmo, vai um passo que, na linha do argumento de Santo Anselmo, não passará duma decorrência necessária.
Estamos, evidentemente, no mundo da filosofia, e o Deus cuja inexistência se admite como provável e a existência como possível será sempre o Deus dos filósofos. Durante séculos deu-se como assente a possibilidade de atingir Deus apenas com a luz da razão. Muitos séculos antes de S. Tomás de Aquino ter formulado as famosas cinco vias que levariam à conclusão da existência de Deus, já Aristóteles dirimira a questão evocando, parante um mundo contingente, a necessidade duma causa incausada e de um motor imóvel. O que, pensando bem, vem dar no mesmo: a evidência do contingente postula como necessária a existência do Absoluto. E a verdade é que todos os seres que conhecemos derivam de outros seres, devem a outrem a sua existência: nenhum existe por si, nenhum tem em si a razão a razão da própria existência, que lhe foi dada por outro, que a recebeu de outro e assim sucessivamente. Até se chegar a Um que existe por si e não deve a ninguém o próprio ser, pois é ele a razão da sua própria existência: não foi causado por ninguém, e é a causa última de todos os outros. Estes são contingentes (existem, mas podiam não existir), aquele é absoluto (não pode não existir). É a este que a filosofia chama Deus. Admitir a sua existência era para os antigos uma questão de bom senso, decorrente da observação do ser contingente.
Não penso, porém, se esgote assim. Mais: nem creio que seja a existência o verdadeiro problema de Deus para o homem. Para mim, o verdadeiro problema é o da relação entre Deus e o mundo: a existência é apenas um pressuposto do problema da relação. Que importa que Deus exista, se não tem qualquer relação com o mundo? Deus existe? Seja!
E depois? Se não tem relação com o mundo, tanto faz que exista como que não exista. É indiferente.
Mas será possível que, existindo, Deus não tenha qualquer relação com o mundo? Tenho para mim que a razão que leva muitos a negar a existência de Deus não são evidências racionais que apontem para a sua inexistência e que, no meu entender, não existem de todo (muito pelo contrário); é antes o medo de que, uma vez admitida a existência de Deus, dela se vissem obrigados a deduzir algum tipo de relação que viesse influenciar as suas vidas.
E aqui me atrevo a deixar aquela que me parece a verdadeira questão – pelo menos a questão relevante: dado (ainda que não concedido) que Deus exista, que relação terá ele com o homem, que relação poderá ter o homem com ele?
J. Tomaz Ferreira