domingo, 31 de janeiro de 2010

Que significa crer?

«A fé é o acto fundamental da existência cristã.
No acto de fé exprime-se a estrutura essencial do cristianismo, a resposta que esta dá à pergunta: como podemos atingir o nosso destino compreendendo a nossa humanidade? Há ainda outras respostas. Nem todas as religiões são uma «fé». Por exemplo, o Budismo na sua forma clássica não tende de modo algum para este acto de auto-transcendência, de encontro com o totalmente Outro, com o Deus que me fala ou me chama ao amor...»
Ratzinger, Joseph
A Europa de Bento
Na Crise de Culturas
Aletheia Editores

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Para uma Teologia da Viagem

Procuro lugares em Lisboa ou mesmo em Portugal onde se anuncie o Evangelho para pessoas com niveis médios e/ou altos de literacia, cultura, conhecimento. Sei de alguns, poucos, mas gostava de começar a alargar as minhas escolhas diárias ou dominicais.
Procuro também espaços inteligentes de cultura cristã.
Procuro ainda clubes, comunidades, grupos, congregações, (....) ordens que organizem Cursos de História do Cristianismo.
Ana Paula Lemos

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

P A R A U MA N O V A E P I F A N I A

Não serão muitos os cristãos que sabem localizar no calendário litúrgico a festa da Epifania do Senhor, e menos ainda os que conhecem o significado profundo desta festa. Em compensação, todos responderão prontamente quando interrogados sobre a festa dos Reis. Certamente porque, na celebração de 6 de Janeiro se lê na Missa a passagem do Evangelho de S. Mateus (cap. 2, vv. 1-12) em que se conta como do Oriente vieram uns Magos (o evangelho não fala de Reis) conduzidos por uma estrela que lhes foi indicando o caminho e os conduziu ao lugar onde estava Jesus, um menino que adoraram e a quem ofereceram presentes de oiro, incenso e mirra.
Toda a narrativa parece revestir-se duma grande carga simbólica que transcende o facto em si. E foi essa carga simbólica que levou a que a mesma fosse aproveitada para ilustrar aquilo que a Igreja entendia celebrar, a saber, a manifestação aos gentios do Salvador do Mundo, antecipando desde logo que Ele não fora enviado apenas às ovelhas perdidas da Casa de Israel, mas que o âmbito da sua missão terrena tinha a dimensão do universo. Com efeito, Epifania quer dizer justamente “manifestação”. E, se a adoração do Manino por mais três personagens, depois dos pastores pode considerar-se um fait divers sem importância de maior do ponto de vista da história da salvação, já o facto de eles serem gentios, alheios, portanto, ao povo de Israel, tem um significado profundo do ponto de vista da economia da mesma salvação.

O espectáculo do mundo de hoje, com o Povo de Deus a representar um “pequeno rebanho” quando comparado às multidões de descrentes que o rodeiam e que desconhecem o Salvador e a salvação que Ele veio trazer, apela a uma nova Epifania em que Jesus se manifeste àqueles que O desconhecem e que, desconhecendo-O, não podem obviamente segui-Lo. O Mundo precisa urgentemente de uma estrela que, à semelhança dos Magos, o conduza a Jesus.
“Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus” (Mt., 5, 16). Foram palavras de Jesus dirigidas aos seus discípulos no sermão da montanha. Se bem entendo, é ao proceder dos Seus discípulos que Jesus comete a responsabilidade de guiar até Ele os que ainda O não conhecem. E esta responsabilidade interpela-nos a todos: em que é que o nosso proceder de cristãos se distingue do proceder dos outros para que eles se sintam interpelados?
E aqui há que lembrar que o cristão não é nunca um elemento isolado. Faz parte duma comunidade, o Povo de Deus, que é a Igreja. E então apetece perguntar se a Igreja, tal como se apresenta aos olhos do mundo, é verdadeiramente a luz que ilumina os caminhos dos homens para os conduzir a Cristo. A pergunta é tanto mais pertinente quanto é certo que não raro aqueles que clamam pela reforma da Igreja (Ecclesia semper reformanda – Igreja sempre a precisar de reforma) são acusados de descurarem a tarefa primordial da evangelização. Quando, em meu entender, um dos pontos-chave da evangelização (eu diria o ponto-chave) reside numa Igreja em que os homens facilmente reconheçam a esposa de Cristo sem mancha e sem ruga. O que não acontecerá enquanto no seu agir predominar, por exemplo, o juridismo vigente em que a lei se sobrepõe ao homem, contradizendo a clara mensagem de Cristo que explicitamente proclamou o primado do homem sobre o Sábado (Cf. Mc., 2, 27). O que podemos ilustrar com um exemplo recente.
Como é sabido, os padres estão vinculados ao celibato. Não por força de um voto que não fizeram (o voto de castidade fazem-no os que ingressam numa ordem religiosa), mas porque uma lei da Igreja declarou a ordenação sacerdotal como impedimento para a celebração do Matrimónio. Um impedimento ao lado de outros impedimentos, como aquele que impede o casamento entre sujeitos ligados por um certo grau de parentesco. Desses impedimentos, a Igreja pode dispensar, e muitas vezes dispensa.
No pós-concílio, vários padres pediram dispensa desse impedimento e o Papa Paulo VI concedia essa dispensa, privando quem a recebia do exercício do ministério sacerdotal. Foi assim que muitos sacerdotes puderam, abandonando o ministério, contrair o sacramento do Matrimónio, e continuar a viver em paz e comunhão com a Igreja.
Assim que se sentou na cadeira de Pedro, o tão admirado João Paulo II recusou sistematicamente essa dispensa. Dos dramas de consciência que brotaram dessa sua atitude, terá dado contas a Deus. Perante o mundo ficou patente a clara contradição do seu gesto com o que Cristo ensinou. Para ele, o homem é que fora feito para o Sábado, e não o Sábado para o homem. O que não impediu o seu sucessor, Bento XVI, de o ter proclamado desde já “Venerável”, como primeiro passo para uma canonização que se adivinha acontecerá em breve.
Alguém vislumbra numa Igreja que assim procede o rasto da estrela que conduz a Cristo?
J. Tomaz Ferreira