A religião é um fenómeno universal no tempo e no espaço. Não há história das mais remotas eras que não tenha de dedicar, aos povos que estuda, um capítulo sobre a sua religião. Como arguta (e autorizadamente) escreve Mircea Eliade, “être – ou plutôt devenir – un homme signifie être religieux”. Assim, afirmar que a religião mais não é do que uma inerência da condição humana, mais não é do que a ilação necessária da afirmação citada.
A religião apresenta-se como a busca pelo homem do sagrado, do transcendente, de Deus – pouco importa a palavra com que se designe. É, consequentemente, um movimento ascendente do homem para Deus: é, poderíamos dizê-lo, a terra a clamar pelo céu, e, na perspectiva de Mircea Eliade, um tal movimento nasce irresistivelmente do desejo do homem de conseguir a sua completa hominização.
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Analisando o cristianismo e a sua proposta religiosa, encontramos invertidos os termos da génese da religião. Nele, não é o homem que vai à procura de Deus – é Deus que vem à procura do homem. Na religião de que falávamos, o homem interpela, na esperança de que Deus responda. No cristianismo, os termos invertem-se: cabe ao homem a resposta, porque a interpelação vem de Deus. Analisando o acto de Fé, católicos e protestantes, em diálogo ecuménico, acordaram em distinguir no mesmo três tempos em sequência lógica: a interpelação de Deus, o sim do homem, e o ámen de Deus como aceitação do assentimento do homem.
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Na sociedade contemporânea, é mais ou menos pacífico aceitar como facto o fenómeno da descristianização. Talvez em dimensão menor e em forma diferente das que alguns pretendem. Não se ignora que é moda, que é “bem” atacar a Igreja Católica e troçar dela. Há poucas horas ainda vi, na prosa duma colunista, apontar a Igreja como uma forma decadente de cultura pop... Mas não esqueço também que João Paulo II desafiou a Igreja a lançar um movimento a que chamou de “nova evangelização”. Em que consistia e que formas devia assumir, foram pormenores que o Papa não esclareceu – eventualmente porque nem ele próprio saberia...
Mas, à luz do que fica dito, parece que um dos factores, senão o principal, que explica a onda de descrença é a incapacidade da Igreja para ser junto dos homens o instrumento da interpelação de Deus. Porque os homens do nosso tempo não estão – longe disso – fechados ao apelo do transcendente. E disso existem múltiplos sinais. O drama está em que não é para o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob – o Deus de Jesus Cristo, que essa ânsia se orienta.
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É fácil rotular de progressistas e classificar de desorientados os que clamam pela reforma da Igreja, os que querem não outra Igreja, mas uma Igreja que seja outra. A verdade é que, na sua forma de organização, no seu modo de falar, nas formas de culto que propõe, dificilmente se conseguirá discernir a interpelação de Deus que é o princípio gerador da Fé. É isso que torna imperiosa a reforma da Igreja – e essa será deveras a nova evangelização.
A religião apresenta-se como a busca pelo homem do sagrado, do transcendente, de Deus – pouco importa a palavra com que se designe. É, consequentemente, um movimento ascendente do homem para Deus: é, poderíamos dizê-lo, a terra a clamar pelo céu, e, na perspectiva de Mircea Eliade, um tal movimento nasce irresistivelmente do desejo do homem de conseguir a sua completa hominização.
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Analisando o cristianismo e a sua proposta religiosa, encontramos invertidos os termos da génese da religião. Nele, não é o homem que vai à procura de Deus – é Deus que vem à procura do homem. Na religião de que falávamos, o homem interpela, na esperança de que Deus responda. No cristianismo, os termos invertem-se: cabe ao homem a resposta, porque a interpelação vem de Deus. Analisando o acto de Fé, católicos e protestantes, em diálogo ecuménico, acordaram em distinguir no mesmo três tempos em sequência lógica: a interpelação de Deus, o sim do homem, e o ámen de Deus como aceitação do assentimento do homem.
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Na sociedade contemporânea, é mais ou menos pacífico aceitar como facto o fenómeno da descristianização. Talvez em dimensão menor e em forma diferente das que alguns pretendem. Não se ignora que é moda, que é “bem” atacar a Igreja Católica e troçar dela. Há poucas horas ainda vi, na prosa duma colunista, apontar a Igreja como uma forma decadente de cultura pop... Mas não esqueço também que João Paulo II desafiou a Igreja a lançar um movimento a que chamou de “nova evangelização”. Em que consistia e que formas devia assumir, foram pormenores que o Papa não esclareceu – eventualmente porque nem ele próprio saberia...
Mas, à luz do que fica dito, parece que um dos factores, senão o principal, que explica a onda de descrença é a incapacidade da Igreja para ser junto dos homens o instrumento da interpelação de Deus. Porque os homens do nosso tempo não estão – longe disso – fechados ao apelo do transcendente. E disso existem múltiplos sinais. O drama está em que não é para o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob – o Deus de Jesus Cristo, que essa ânsia se orienta.
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É fácil rotular de progressistas e classificar de desorientados os que clamam pela reforma da Igreja, os que querem não outra Igreja, mas uma Igreja que seja outra. A verdade é que, na sua forma de organização, no seu modo de falar, nas formas de culto que propõe, dificilmente se conseguirá discernir a interpelação de Deus que é o princípio gerador da Fé. É isso que torna imperiosa a reforma da Igreja – e essa será deveras a nova evangelização.
J. Tomaz Ferreira