Parecem-me pouco convictos os ateus dos nossos dias. Para eles, a não existência de Deus deixou de ser um dado adquirido para baixar à categoria de mera probabilidade. Postas as coisas nestes termos, fácil lhes será concordar com a possibilidade da existência de Deus. E, ao lado da frase “provavelmente Deus não existe”, não teria lógica recusarem a afirmação: “é possível que Deus exista”. Daqui a admitir que Deus existe mesmo, vai um passo que, na linha do argumento de Santo Anselmo, não passará duma decorrência necessária.
Estamos, evidentemente, no mundo da filosofia, e o Deus cuja inexistência se admite como provável e a existência como possível será sempre o Deus dos filósofos. Durante séculos deu-se como assente a possibilidade de atingir Deus apenas com a luz da razão. Muitos séculos antes de S. Tomás de Aquino ter formulado as famosas cinco vias que levariam à conclusão da existência de Deus, já Aristóteles dirimira a questão evocando, parante um mundo contingente, a necessidade duma causa incausada e de um motor imóvel. O que, pensando bem, vem dar no mesmo: a evidência do contingente postula como necessária a existência do Absoluto. E a verdade é que todos os seres que conhecemos derivam de outros seres, devem a outrem a sua existência: nenhum existe por si, nenhum tem em si a razão a razão da própria existência, que lhe foi dada por outro, que a recebeu de outro e assim sucessivamente. Até se chegar a Um que existe por si e não deve a ninguém o próprio ser, pois é ele a razão da sua própria existência: não foi causado por ninguém, e é a causa última de todos os outros. Estes são contingentes (existem, mas podiam não existir), aquele é absoluto (não pode não existir). É a este que a filosofia chama Deus. Admitir a sua existência era para os antigos uma questão de bom senso, decorrente da observação do ser contingente.
Não penso, porém, se esgote assim. Mais: nem creio que seja a existência o verdadeiro problema de Deus para o homem. Para mim, o verdadeiro problema é o da relação entre Deus e o mundo: a existência é apenas um pressuposto do problema da relação. Que importa que Deus exista, se não tem qualquer relação com o mundo? Deus existe? Seja!
E depois? Se não tem relação com o mundo, tanto faz que exista como que não exista. É indiferente.
Mas será possível que, existindo, Deus não tenha qualquer relação com o mundo? Tenho para mim que a razão que leva muitos a negar a existência de Deus não são evidências racionais que apontem para a sua inexistência e que, no meu entender, não existem de todo (muito pelo contrário); é antes o medo de que, uma vez admitida a existência de Deus, dela se vissem obrigados a deduzir algum tipo de relação que viesse influenciar as suas vidas.
E aqui me atrevo a deixar aquela que me parece a verdadeira questão – pelo menos a questão relevante: dado (ainda que não concedido) que Deus exista, que relação terá ele com o homem, que relação poderá ter o homem com ele?
Estamos, evidentemente, no mundo da filosofia, e o Deus cuja inexistência se admite como provável e a existência como possível será sempre o Deus dos filósofos. Durante séculos deu-se como assente a possibilidade de atingir Deus apenas com a luz da razão. Muitos séculos antes de S. Tomás de Aquino ter formulado as famosas cinco vias que levariam à conclusão da existência de Deus, já Aristóteles dirimira a questão evocando, parante um mundo contingente, a necessidade duma causa incausada e de um motor imóvel. O que, pensando bem, vem dar no mesmo: a evidência do contingente postula como necessária a existência do Absoluto. E a verdade é que todos os seres que conhecemos derivam de outros seres, devem a outrem a sua existência: nenhum existe por si, nenhum tem em si a razão a razão da própria existência, que lhe foi dada por outro, que a recebeu de outro e assim sucessivamente. Até se chegar a Um que existe por si e não deve a ninguém o próprio ser, pois é ele a razão da sua própria existência: não foi causado por ninguém, e é a causa última de todos os outros. Estes são contingentes (existem, mas podiam não existir), aquele é absoluto (não pode não existir). É a este que a filosofia chama Deus. Admitir a sua existência era para os antigos uma questão de bom senso, decorrente da observação do ser contingente.
Não penso, porém, se esgote assim. Mais: nem creio que seja a existência o verdadeiro problema de Deus para o homem. Para mim, o verdadeiro problema é o da relação entre Deus e o mundo: a existência é apenas um pressuposto do problema da relação. Que importa que Deus exista, se não tem qualquer relação com o mundo? Deus existe? Seja!
E depois? Se não tem relação com o mundo, tanto faz que exista como que não exista. É indiferente.
Mas será possível que, existindo, Deus não tenha qualquer relação com o mundo? Tenho para mim que a razão que leva muitos a negar a existência de Deus não são evidências racionais que apontem para a sua inexistência e que, no meu entender, não existem de todo (muito pelo contrário); é antes o medo de que, uma vez admitida a existência de Deus, dela se vissem obrigados a deduzir algum tipo de relação que viesse influenciar as suas vidas.
E aqui me atrevo a deixar aquela que me parece a verdadeira questão – pelo menos a questão relevante: dado (ainda que não concedido) que Deus exista, que relação terá ele com o homem, que relação poderá ter o homem com ele?
J. Tomaz Ferreira