Consta que em certas escolas evangélicas dos Estados Unidos ainda hoje é proibido ensinar as teorias de Darwin sobre a evolução das espécies. Uma interpretação literal da narrativa bíblica das origens leva-os a perfilhar um criacionismo absoluto. Segundo eles, o mundo todo e tudo quanto nele existe foi feito por Deus directamente e do modo como o texto sagrado refere. Assim, a criação do mundo levou seis dias; Deus fez por si todas e cada uma das espécies vegetais e animais, e o homem foi plasmado por Deus a partir do pó da terra...
É evidente que uma tal leitura da Bíblia é desmentida não apenas pelas teorias de Darwin, mas por todos os dados adquiridos pela ciência no estudo do universo: os seis dias da Bíblia transformou-os a ciência em milhares de milhões de anos...
Que dizer então: é falso o que a Bíblia nos ensina? De modo nenhum. O que não podemos é pedir à Bíblia o que ela não é suposto fornecer. Em matéria de criação do mundo, a Bíblia ensina-nos o quê e não o como. Além do mais, a Bíblia não é um livro científico mas religioso onde se encontram as verdades que devem orientar o homem na sua caminhada terrena. De resto, se tivesse descrito a criação do mundo em termos científicos, não teria sido entendida por aqueles a quem imediatamente se destinava. Imaginemos que, em vez de dizer “no princípio criou Deus o céu e a terra”, o autor sagrado escrevia: “no princípio Deus produziu o big bang”: quem o teria entendido, se ainda hoje tantos há que do big bang nunca ouviram falar, e só uma ínfima minoria sabe em que realmente consistiu esse fenómeno primeiro?
Não. Se Cristo mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, também nós devemos atribuir à revelação divina o que a ela pertence, e ao engenho humano o que lhe cabe descobrir. A finalidade religiosa da Bíblia impunha que manifestasse ao homem as verdades fundamentais para orientar a sua conduta de vida e perceber a sua relação com Deus. Por isso mesmo, ensina que o mundo todo é fruto dum acto livre de Deus que do nada fez surgir o ser; que tudo quanto Deus fez é bom e que o mal existente no mundo não é obra de Deus – o pecado original (desobediência do homem a Deus) aparece no texto bíblico como elemento explicativo da inegável existência do mal; que, no conjunto da criação, o homem é um ser muito especial (a sua criação é precedida duma deliberação pensada – “façamos o homem à nossa imagem e semelhança” –) e se em toda a criação é possível encontrar um reflexo de Deus, no homem está impressa a imagem desse mesmo Deus; por isso ele á constituído senhor da criação que deve dominar, porque foi para ele que Deus a empreendeu.
Será que o facto de não ter sido Deus a plasmar todas e cada uma das espécies as subtrai à acção criadora de Deus? O velho e esquecido e sensato S. Tomás de Aquino ensinou que no mundo Deus não age directamente mas através das “causas segundas”. O como do aparecimento da vida e das espécies na sua diversificação, Deus confiou-o às causas segundas. Chamem a estas causas os nomes que quiserem – acaso, grandes números, selecção natural. Pouco importa. Por elas, é sempre o mesmo Deus que continua a sua acção criadora. E é isto que a Bíblia nos ensina, centrada que está na Causa Primeira: o Deus que, no princípio, criou o céu e a terra.
É evidente que uma tal leitura da Bíblia é desmentida não apenas pelas teorias de Darwin, mas por todos os dados adquiridos pela ciência no estudo do universo: os seis dias da Bíblia transformou-os a ciência em milhares de milhões de anos...
Que dizer então: é falso o que a Bíblia nos ensina? De modo nenhum. O que não podemos é pedir à Bíblia o que ela não é suposto fornecer. Em matéria de criação do mundo, a Bíblia ensina-nos o quê e não o como. Além do mais, a Bíblia não é um livro científico mas religioso onde se encontram as verdades que devem orientar o homem na sua caminhada terrena. De resto, se tivesse descrito a criação do mundo em termos científicos, não teria sido entendida por aqueles a quem imediatamente se destinava. Imaginemos que, em vez de dizer “no princípio criou Deus o céu e a terra”, o autor sagrado escrevia: “no princípio Deus produziu o big bang”: quem o teria entendido, se ainda hoje tantos há que do big bang nunca ouviram falar, e só uma ínfima minoria sabe em que realmente consistiu esse fenómeno primeiro?
Não. Se Cristo mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, também nós devemos atribuir à revelação divina o que a ela pertence, e ao engenho humano o que lhe cabe descobrir. A finalidade religiosa da Bíblia impunha que manifestasse ao homem as verdades fundamentais para orientar a sua conduta de vida e perceber a sua relação com Deus. Por isso mesmo, ensina que o mundo todo é fruto dum acto livre de Deus que do nada fez surgir o ser; que tudo quanto Deus fez é bom e que o mal existente no mundo não é obra de Deus – o pecado original (desobediência do homem a Deus) aparece no texto bíblico como elemento explicativo da inegável existência do mal; que, no conjunto da criação, o homem é um ser muito especial (a sua criação é precedida duma deliberação pensada – “façamos o homem à nossa imagem e semelhança” –) e se em toda a criação é possível encontrar um reflexo de Deus, no homem está impressa a imagem desse mesmo Deus; por isso ele á constituído senhor da criação que deve dominar, porque foi para ele que Deus a empreendeu.
Será que o facto de não ter sido Deus a plasmar todas e cada uma das espécies as subtrai à acção criadora de Deus? O velho e esquecido e sensato S. Tomás de Aquino ensinou que no mundo Deus não age directamente mas através das “causas segundas”. O como do aparecimento da vida e das espécies na sua diversificação, Deus confiou-o às causas segundas. Chamem a estas causas os nomes que quiserem – acaso, grandes números, selecção natural. Pouco importa. Por elas, é sempre o mesmo Deus que continua a sua acção criadora. E é isto que a Bíblia nos ensina, centrada que está na Causa Primeira: o Deus que, no princípio, criou o céu e a terra.
J. Tomaz Ferreira