sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O S TEMPOS DOS HOMENS

Acaba de ser canonizado um pobre padre belga, de seu nome Damião de Veuster. Nasceu a 3 de Janeiro de 1840 na pequena localidade de Tremele perto de Lovaina e recebeu no baptismo o nome de Josepah. Tomou o nome de Damião quando ingressou na humilde Congregação dos Padres dos Sagrados Corações.
substituição de seu irmão Panfilo que a isso estava destinado, mas que o tifo arrebatou prematuramente deste mundo. Acasos da vida ou jogos de Deus.
A viagem foi dura: 148 dias no mar, sem escala, até desembarcar em Honolulu a 19 de Março de 1864. Ali iniciou o seu ministério apostólico e ali tomou conhecimento de que uma das ilhas do arquipélago fora dedicada a colónia de leprosos – Molocai é o seu nome. É-nos difícil imaginar o que era nesses tempos a condição de leproso. Lembramo-nos da Bíblia que entre os Hebreus, os leprosos eram expulsos das cidades e obrigados a viver nos descampados para evitar que contagiassem os outros. Assim acontecia ainda em meados do século XIX, e quem leu o livro Papillon de Henri Charrière deve recordar-se da descrição que ele faz da ilha dos leprosos a que aportou numa das suas tentativas de fuga.
Em Molocai viviam apenas leprosos que, de tempos a tempos, recebiam alimentos e roupas, mas onde ninguém se atrevia a fixar-se para os ajudar, com medo de contrair a doença maldita. Pois em Março de 1873, o P. Damião obtém dos seus superiores autorização para se fixar na ilha. Este simples gesto tinha simbolicamente, para os leprosos que ali viviam, um sentido redentor, que me atrevo a considerar mais importante do que a própria cura da doença: a reabilitação da dignidade humana daqueles que a sociedade expelira e votara ao abandono. Dali em diante, os doentes de Molocai deixavam de ser os párias malditos quer todos execravam. Alguém, são de corpo e alma, fora ao seu encontro para partilhar com eles a sua vida e, mais do que isso, com os parcos recursos de que dispunha, tentar aliviar o sofrimento atroz provocado pela doença.
Foi um trabalho hercúleo, porque, naquela ilha, tudo estava por fazer... et pour cause... O padre não tinha casa e, se a quis, teve que a construir. E construiu para si e para os seus irmãos leprosos. E construiu também um hospital onde ia cuidando como podia dos doentes, tentando, senão curá-los, aliviar-lhes o sofrimento. Naquela terra do desespero, o seu gesto de amor fizera brotar a esperança e ressuscitara a dignidade no coração daqueles malditos da terra.
Como era de prever, o Padre Damião contraiu também ele a lepra. Os primeiros sintomas aparecem em 1887. Devorado pela doença, morre aos 49 anos de idade, em 15 de Abril de 1889.
A Igreja esperou 120 anos para declarar a heroicidade das suas virtudes (evidente, parece-me a mim). Para outros, foi mais diligente, e poucos anos bastaram para serem elevados às honras dos altares. Vontade de Deus? Caprichos dos homens? Parece que na vida da Igreja pode menos o brilho humilde da virtude do que a força das influências do mundo. Entenda quem puder
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J. Tomaz Ferreira