Fico sempre um tanto embaraçado quando me perguntam o que é ter Fé. A primeira tentação é atirar para a frente a definição do Concílio Vaticano I que me resguarda de quaisquer laivos de atrevimento menos ortodoxo. Segundo ela, a Fé é a “virtude sobrenatural, pela qual, com o auxílio da graça de Deus, acreditamos que são verdadeiras as coisas que Deus revelou, não por causa da sua verdade intrínseca apreendida pela luz natural da razão, mas por causa da autoridade de Deus que revela, e que nem se engana, nem pode enganar-nos”. (D. 1789)
A definição é perfeita, mas… sabe a pouco, sobretudo se nos lembrarmos de Abraão, o pai dos crentes, que efectivamente acreditou no que Deus lhe disse e, por via disso, mudou radicalmente a sua vida… Sabe a pouco, dizia, sobretudo se comparada com uma outra definição de autoridade ainda maior e que podemos colher na Epístola aos Hebreus. Aí, a Fé é definida como “a garantia dos bens que esperamos, a prova das realidades que não se vêem” (Hebr., 11, 11). Os bens que esperamos são, evidentemente a ressurreição dos mortos e a vida eterna – realidades que não se vêem, realidades futuras. Abraão iria rever-se nesta definição.
Comparando as duas definições, salta à vista que a primeira cinge a Fé ao conhecimento e, assim sendo, aprisiona-a na inteligência. A Fé é um fenómeno meramente gnoseológico. Não assim com a segunda em que não se trata de conhecer verdades, mas de possuir realidades concretas – de as possuir num futuro que a Fé antecipa para um presente em que são possuídas na Esperança que assim sorrateiramente se introduz no acto de Fé.
Assim, e no imediato da apreensão, a Fé crida do Vaticano I reconduz-se a um conhecimento abstracto de verdades. A Fé crida da Epístola aos Hebreus ultrapassa a gnose que é a posse apenas pelo conhecimento, para se fixar na esperança da posse plena que, remetida para o fim dos tempos, a Fé antecipa em Esperança certa: certa porque, casando as duas definições, Deus nem se engana nem pode enganar-nos.
Esta nuance no que respeita à Fé crida tem consequências na Fé crente. Na primeira, a Fé crente é um acto da inteligência – porque a Fé crida é uma gnose. Na segunda, encontra-se implicada a vida toda, já que a Fé crida é uma vida em antecipação da Vida que Deus prometeu.
Como é evidente, a Fé tem que ser pensada em função da Revelação – como claramente resulta da definição do Vaticano I. Ora, o que Deus revelou não foi propriamente um conjunto de verdades abstractas para a nossa elucidação. S. Paulo foi ao fundo da questão quando condensou toda a revelação no “mistério escondido desde sempre em Deus” (Col., 1, 26). Esse mistério escondido que ninguém nunca poderia entrever é a intenção que guiou o acto criador e depois toda a história que se lhe seguiu. Ao revelar-se aos homens, Deus partilhou com eles primordialmente não os mistérios do que é, mas aquilo que de mais íntimo e imperscrutável nele existe: o seu designo, as suas intenções. Deus disse aos homens que toda a sua actuação ad extra se orientava para uma única finalidade: o grande desígnio de fazer os homens felizes numa vida que não tem fim.
É esta partilha íntima que faz com que a revelação de Deus seja antes de tudo e acima de tudo, uma PROMESSA. Donde que o núcleo fundamental da Fé crida seja a promessa da felicidade eterna. Assim, a Fé crente não pode limitar-se ao conhecimento da promessa, mas à sua aceitação como boa, fiável, o que implica jogar a vida num desconhecido que tem como única garantia a Palavra de Deus. Nela entra a inteligência, mas entra muito mais – a vida toda. Ter Fé é fiar-se de Deus.
A definição é perfeita, mas… sabe a pouco, sobretudo se nos lembrarmos de Abraão, o pai dos crentes, que efectivamente acreditou no que Deus lhe disse e, por via disso, mudou radicalmente a sua vida… Sabe a pouco, dizia, sobretudo se comparada com uma outra definição de autoridade ainda maior e que podemos colher na Epístola aos Hebreus. Aí, a Fé é definida como “a garantia dos bens que esperamos, a prova das realidades que não se vêem” (Hebr., 11, 11). Os bens que esperamos são, evidentemente a ressurreição dos mortos e a vida eterna – realidades que não se vêem, realidades futuras. Abraão iria rever-se nesta definição.
Comparando as duas definições, salta à vista que a primeira cinge a Fé ao conhecimento e, assim sendo, aprisiona-a na inteligência. A Fé é um fenómeno meramente gnoseológico. Não assim com a segunda em que não se trata de conhecer verdades, mas de possuir realidades concretas – de as possuir num futuro que a Fé antecipa para um presente em que são possuídas na Esperança que assim sorrateiramente se introduz no acto de Fé.
Assim, e no imediato da apreensão, a Fé crida do Vaticano I reconduz-se a um conhecimento abstracto de verdades. A Fé crida da Epístola aos Hebreus ultrapassa a gnose que é a posse apenas pelo conhecimento, para se fixar na esperança da posse plena que, remetida para o fim dos tempos, a Fé antecipa em Esperança certa: certa porque, casando as duas definições, Deus nem se engana nem pode enganar-nos.
Esta nuance no que respeita à Fé crida tem consequências na Fé crente. Na primeira, a Fé crente é um acto da inteligência – porque a Fé crida é uma gnose. Na segunda, encontra-se implicada a vida toda, já que a Fé crida é uma vida em antecipação da Vida que Deus prometeu.
Como é evidente, a Fé tem que ser pensada em função da Revelação – como claramente resulta da definição do Vaticano I. Ora, o que Deus revelou não foi propriamente um conjunto de verdades abstractas para a nossa elucidação. S. Paulo foi ao fundo da questão quando condensou toda a revelação no “mistério escondido desde sempre em Deus” (Col., 1, 26). Esse mistério escondido que ninguém nunca poderia entrever é a intenção que guiou o acto criador e depois toda a história que se lhe seguiu. Ao revelar-se aos homens, Deus partilhou com eles primordialmente não os mistérios do que é, mas aquilo que de mais íntimo e imperscrutável nele existe: o seu designo, as suas intenções. Deus disse aos homens que toda a sua actuação ad extra se orientava para uma única finalidade: o grande desígnio de fazer os homens felizes numa vida que não tem fim.
É esta partilha íntima que faz com que a revelação de Deus seja antes de tudo e acima de tudo, uma PROMESSA. Donde que o núcleo fundamental da Fé crida seja a promessa da felicidade eterna. Assim, a Fé crente não pode limitar-se ao conhecimento da promessa, mas à sua aceitação como boa, fiável, o que implica jogar a vida num desconhecido que tem como única garantia a Palavra de Deus. Nela entra a inteligência, mas entra muito mais – a vida toda. Ter Fé é fiar-se de Deus.
J. Tomaz Ferreira