segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O MEU ADVENTO

Todos os anos o ciclo da Liturgia nos traz a festa do Natal em que se comemora o nascimento de Jesus. E, a precedê-lo, quatro semanas que se querem de penitência (i. é de transformação interior) em que é suposto os cristãos prepararem-se para a vinda do Senhor.
O Advento é um tempo de espera e um tempo de esperança. Na representação que o ano litúrgico faz da História da Salvação, o Advento figura o tempo que precedeu a vinda do Salvador: a espera do Mundo e a esperança de Israel, pois só o povo eleito estava consciente da promessa de Deus. O Messias veio, realizou a obra que o Pai lhe cometera de salvar os homens e regressou ao seio do Pai, enquanto na Terra a Igreja, novo Povo de Deus, perpetua a Sua missão salvadora e o grande Mundo segue o rumo da História. Mas também este é um tempo de espera e de esperança – porque o Senhor há-de voltar outra vez. Por isso, bem podemos dizer que a história dos homens se desdobra em dois tempos de Advento: o primeiro a culminar na incarnação do Verbo; o segundo a decorrer diante de nós, em que tudo se prepara para a segundo vinda do Senhor a colher os frutos da Redenção em marcha naquilo a que me atrevo a chamar a maturação da História.
Os primeiros cristãos, perseguidos e humilhados, ansiavam pela segunda vinda do Senhor, que seria, afinal, o tempo do seu triunfo. E pensavam que estaria para breve o tempo dessa vinda que não se cansavam de implorar. É comovente, nesse aspecto, o Epílogo do Apocalipse de S. João que termina justamente com o grito ansioso: “Vem, Senhor Jesus!”, grito que se segue à promessa que o precede: “Sim, virei brevemente”. E essa promessa aparece como resposta aos apelos feitos atrás: “O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Diga também o que escuta: Vem!” (Cf. Apoc., 22, 17-20).
Já lá vão dois mil anos, e o Senhor não voltou. E aqui será de lembrar a observação do Salmista: “Mil anos aos olhos de Deus são como o dia de ontem que passou” (Ps. 89, 4). O “brevemente” de Deus não é igual ao “brevemente” dos homens.
Não podemos esquecer que a obra da Redenção operada por Cristo implica uma continuação a realizar pelos seus discípulos a quem Ele próprio enviou para anunciarem a Boa Nova por toda a Terra. E que nessa Boa Nova se inclui a esperança dos “novos céus e da nova terra” (Cf. 2Pet., 3, 12). É a dimensão cósmica da Redenção que, extravasando dos homens, se alarga à criação inteira. São claríssimas, nesse sentido, as palavras de S. Paulo: “Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de revelar em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. De facto, a criação foi sujeita à destruição (...) na esperança de que também ela será libertada da escravidão da corrupção para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores do parto até ao presente.” (Rom., 8, 18-22)
Isto significa que toda a criação comunga da espera pela segunda vinda do Senhor. É este também o meu Advento. Mais do que comemorar a espera duma vinda que já aconteceu, comungo, nas dores do Mundo (tantas e tão patentes aos nossos olhos) a espera pela segunda vinda do Senhor.
Uma espera que será longa – como já avisara S. Pedro aos cristãos do seu tempo (Cf. 2Pet., 3, 8-10). Mas que todos somos convidados a viver na esperança.
J. Tomaz Ferreira