Bate-me sempre uma sensação de vazio quando visito uma igreja sem sacrário. O sacrário é, como todos sabem, a caixa em que se guardam as hóstias consagradas, que a fé cristã professa serem o Corpo de Cristo escondido nas aparências do pão.
A presença de Cristo na hóstia consagrada pertence indiscutivelmente ao depósito da revelação e é desde sempre objecto da fé de toda a Igreja. Tem como base as narrativas evangélicas da Última Ceia em que Jesus “tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: tomai e comei, isto é o meu corpo” (Mt., 26, 26). Nem os Apóstolos se devem ter espantado com tão estranho gesto. Muito tempo antes, após a multiplicação dos pães, já Jesus misteriosamente anunciara: “O meu corpo é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e eu nele.” (Jo., 6, 55-56) A crueza destas palavras levou muitos discípulos a abandonarem o Mestre que, perante a deserção, não teve palavras ou gestos que adoçassem o que dissera. Placidamente, limita-se a perguntar aos que ficaram: “Vós também quereis ir embora?” (Jo., 6, 67) Não quiseram, e em resposta aconteceu a primeira confissão de Pedro: “A quem havemos de ir? És tu que tens palavras de vida eterna.” (Jo., 6, 68)
Na festa do Corpo de Deus, a Igreja inteira renova esta profissão de fé daquele que Jesus constituiu alicerce da sua Igreja. É esse o significado da procissão que, por determinação canónica se realiza em todas as comunidades cristãs, propondo o Senhor Jesus, presente na hóstia consagrada, à adoração dos seus fiéis.
Isto dito, ocorre-me que seria redutor a Eucaristia apenas como um modo de presença real de Jesus no meio dos seus. Seria limitara Eucaristia ao seu lado estático: o Cristo presente nos sacrários das igrejas é o Cristo que aguarda a companhia dos seus fiéis, que lhes diz que não estão sozinhos, que os conforta nas suas desventuras. Mas esse Cristo resulta da celebração do mistério eucarístico. É na celebração eucarística que o pão e o vinho se mudam em corpo e sangue de Cristo, repartidos, como na Última Ceia por aquele que a fé reuniu à volta da mesa do banquete eucarístico.
Mas esta celebração da Eucaristia é muito mais do que isso. S. Paulo, na primeira epístola aos coríntios, deixou-nos aquele que é, cronologicamente, o primeiro testemunho escrito sobre a Eucaristia. No essencial corresponde quase literalmente ao que consta das narrativas evangélicas, que, no entanto, precede no tempo. Mas acrescenta com toda a clareza: “Todas as vezes que comeis este pão e bebeis este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha”. (1Cor., 11, 26) E aqui temos a chave da grandeza da Eucaristia, o seu aspecto dinâmico. Quando celebramos a Eucaristia, não nos limitamos a tornar Jesus presente sob as aparências do pão e do vinho. Quando celebramos a Eucaristia, repristinamos o mistério da nossa redenção realizada pela morte e ressurreição de Cristo. Não rememoramos apenas a morte do Senhor: actualizamos a sua função redentora, e é isso que nos permite juntar à força essencial dessa Redenção. Os micro-grãos de redenção constituídos por todas as boas obras que vamos fazendo, por todas as penas que vamos sofrendo. O nosso trabalho, o nosso sofrimento, o bem que fazemos aos outros, as lutas que travamos pela justiça e pela verdade, tudo isso, unido ao sacrifício de Cristo ali presente tem força de redenção e vai completando a Redenção do mesmo Cristo, acrescentando-lhe aquilo que lhe falta ainda (Cf. Col., 1, 24). Porque a Redenção continua em marcha “até que Ele venha”.
A presença de Cristo na hóstia consagrada pertence indiscutivelmente ao depósito da revelação e é desde sempre objecto da fé de toda a Igreja. Tem como base as narrativas evangélicas da Última Ceia em que Jesus “tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: tomai e comei, isto é o meu corpo” (Mt., 26, 26). Nem os Apóstolos se devem ter espantado com tão estranho gesto. Muito tempo antes, após a multiplicação dos pães, já Jesus misteriosamente anunciara: “O meu corpo é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e eu nele.” (Jo., 6, 55-56) A crueza destas palavras levou muitos discípulos a abandonarem o Mestre que, perante a deserção, não teve palavras ou gestos que adoçassem o que dissera. Placidamente, limita-se a perguntar aos que ficaram: “Vós também quereis ir embora?” (Jo., 6, 67) Não quiseram, e em resposta aconteceu a primeira confissão de Pedro: “A quem havemos de ir? És tu que tens palavras de vida eterna.” (Jo., 6, 68)
Na festa do Corpo de Deus, a Igreja inteira renova esta profissão de fé daquele que Jesus constituiu alicerce da sua Igreja. É esse o significado da procissão que, por determinação canónica se realiza em todas as comunidades cristãs, propondo o Senhor Jesus, presente na hóstia consagrada, à adoração dos seus fiéis.
Isto dito, ocorre-me que seria redutor a Eucaristia apenas como um modo de presença real de Jesus no meio dos seus. Seria limitara Eucaristia ao seu lado estático: o Cristo presente nos sacrários das igrejas é o Cristo que aguarda a companhia dos seus fiéis, que lhes diz que não estão sozinhos, que os conforta nas suas desventuras. Mas esse Cristo resulta da celebração do mistério eucarístico. É na celebração eucarística que o pão e o vinho se mudam em corpo e sangue de Cristo, repartidos, como na Última Ceia por aquele que a fé reuniu à volta da mesa do banquete eucarístico.
Mas esta celebração da Eucaristia é muito mais do que isso. S. Paulo, na primeira epístola aos coríntios, deixou-nos aquele que é, cronologicamente, o primeiro testemunho escrito sobre a Eucaristia. No essencial corresponde quase literalmente ao que consta das narrativas evangélicas, que, no entanto, precede no tempo. Mas acrescenta com toda a clareza: “Todas as vezes que comeis este pão e bebeis este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha”. (1Cor., 11, 26) E aqui temos a chave da grandeza da Eucaristia, o seu aspecto dinâmico. Quando celebramos a Eucaristia, não nos limitamos a tornar Jesus presente sob as aparências do pão e do vinho. Quando celebramos a Eucaristia, repristinamos o mistério da nossa redenção realizada pela morte e ressurreição de Cristo. Não rememoramos apenas a morte do Senhor: actualizamos a sua função redentora, e é isso que nos permite juntar à força essencial dessa Redenção. Os micro-grãos de redenção constituídos por todas as boas obras que vamos fazendo, por todas as penas que vamos sofrendo. O nosso trabalho, o nosso sofrimento, o bem que fazemos aos outros, as lutas que travamos pela justiça e pela verdade, tudo isso, unido ao sacrifício de Cristo ali presente tem força de redenção e vai completando a Redenção do mesmo Cristo, acrescentando-lhe aquilo que lhe falta ainda (Cf. Col., 1, 24). Porque a Redenção continua em marcha “até que Ele venha”.
J. Tomaz Ferreira