segunda-feira, 20 de julho de 2009

UM OLHAR DE CRIANÇA

Um dia, era eu adolescente, tinha caminhado toda a tarde à beira do mar. Era Inverno, e no céu infinitamente deserto, despertavam as primeiras estrelas. Possivelmente estavam mortas há milhares ou milhões de anos, mas a sua luz continuava a chegar até mim. Em breve eu próprio estaria morto, e um pouco mais tarde – porque diante do nada, mais ainda do que diante de Deus os milénios parecem dias – um pouco mais tarde a Terra estaria morta e as estrelas mortas continuariam a brilhar. Gelado, com o coração gelado, subi para o carro que levaria de regresso à cidade. Tinha resolvido suicidar-me. Para quê esperar? Para quê deixar ainda o nada invadir-me como uma tortura? Que me leve já e para sempre.
Então, senti que alguém olhava para mim. Era uma pequenita de quatro ou cinco anos. Os seus olhos estavam cheios de amizade. Ela sorriu. E eu compreendi que a luz de um olhar – o oceano interior dos olhos – era mais vasto do que o nada salpicado de estrelas, e que havia nessa luz uma promessa, E QUE ERA PRECISO VIVER.


Patriarca Atenágoras