sexta-feira, 1 de agosto de 2008

I parte O Futuro da Espécie Humana em TEILHARD de CHARDIN PARUSIA CRISTÃ

Não está de moda pensar o futuro da Humanidade quanto ao seu termo final. Tanto quanto é do meu conhecimento, os que têm pensado o futuro da espécie humana limitam-se a perspectivar a subsistência dela sobre a Terra e figuram o cenário dum planeta exaurido de recursos que obrigaria os últimos sobreviventes a procurar noutros planetas os meios de subsistir. No pressuposto de que o Homem, na sua forma actual, seria o termo final da Evolução, o non plus ultra do processo cósmico iniciado com o big bang, têm do futuro a visão duma humanidade transformada em nómada do espaço, migrando de mundo em mundo após ter esgotado em cada um os meios de subsistência. Assim se prolongaria pelos séculos dos séculos o futuro duma espécie que representa ao olhar de todos o último passo na caminhada da Evolução, e aos olhos de alguns o vértice para que se orienta todo o processo evolutivo.
Nesta perspectiva não cabe, obviamente, a resposta à interrogação do e depois? final que, no entanto, continuará a ser colocada pelas mentes inquietas. É que cada migração representará sempre um adiamento do fim. Mas, no fundo, todos sabemos que, como a vida dos indivíduos, também a das espécies caminha para um termo de que encontramos abundantes exemplos no planeta que habitamos.
Teilhard de Chardin terá sido o único (tanto quanto julgamos saber) a pensar o problema do futuro da Humanidade na perspectiva da Evolução total, colocando-o em termos que ninguém mais ousou, a saber: sendo o Homem o ponto para que converge toda a Evolução cósmica, será que o seu estado actual é o definitivo, ou, para além dele e através dele, estará em curso uma nova etapa da Evolução que, implicando a transformação do Homem como o conhecemos, será, essa sim, a etapa final, a verdadeira pedra de fecho da abóbada da Evolução?
É claro que, independentemente da solução, o problema interessa, já que, colocá-lo nesta perspectiva é fazer a pergunta radical e definitiva sobre o futuro de todos nós. A magnitude da questão assim colocada faz parecer mesquinhas as tentativas já feitas (duas no século XX com os resultados que se conhecem) de moldar o futuro da Humanidade e que, na aparente grandeza dos seus propósitos, o mais que faziam era gizar o que pensavam dever ser a arquitectura da organização da Humanidade – não mais.
Colocado na perspectiva indicada, o problema extravasa claramente os propósitos daquelas tentativas, como também as eventuais diligências a fazer para gizar novas formas de organização da família humana.
Por isso, não será impertinente repristinar a visão teilhardiana sobre o futuro da Espécie Humana.

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Ao contrário dos filósofos da História, T. C. não produziu sobre o tema reflexões metafísicas esgrimindo ideias abstractas. Ele, que sempre se definiu como um “filisteu da filosofia”, encarou o tema na óptica do cientista que, na observação da Matéria, tenta descobrir as etapas da Evolução e o seu eixo condutor. Assim, T. C. não pergunta, em abstracto, como será a Humanidade de amanhã. A pergunta subjacente à reflexão teilhardiana é mais profunda: será que o Homem, como o conhecemos, representa o termo final da evolução cósmica, ou nele e através dele a Evolução continua com as forças da Cosmogénese a comporem um ultra-humano? E, no caso afirmativo, qual a direcção imposta ao processo pelo eixo da Evolução?
Como é óbvio, assim colocado, o problema não admite devaneios na resposta: tem que se ater ao observado no processo da Evolução. Por isso, T. C. sublinha: “em nenhum momento abandono o terreno da observação científica. Não uma especulação filosófica, mas uma extensão das perspectivas biológicas – nada mais, mas nada menos.”
Há um pressuposto que lhe permite colocar a questão nos termos em que a coloca e pensá-la como a pensa. Esse pressuposto tem a ver com o lugar do Homem no Universo e com a sua inserção no processo evolutivo. Ao contrário, por exemplo, de Jacques Monod, para quem o Homem “está à margem do Universo onde deve viver”, para T. C. o Homem é, de corpo inteiro, parte do Universo. A matéria pensante que é o Homem não é para ele, como para os materialistas, um epi-fenómeno, nem um para-fenómeno, como pretendem os animistas, mas O FENÓMENO para que se orienta todo o processo da Cosmogénese. Além de o ter dito explicitamente, explicou-o quando escreveu: “No universo material, a Vida não é um acidente, mas a essência do fenómeno. No mundo biológico, a Reflexão (isto é, o Homem) não é um incidente, mas uma forma superior de Vida.”

©J. Tomáz Ferreira
Licenciado em Teologia