“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Não conheço nos evangelhos passagem em que Cristo tenha estabelecido incompatibilidade tão radical. A sentença aparece em Mateus (6, 24) e é repetida ipsis verbis em Lucas (16, 13).
Julguei que não seria descabido recordar estas palavras num tempo em que, por todo o mundo, o medo de um colapso financeiro se instalou e tem levado a intervir governos que o fazem ao arrepio da filosofia dominante nos respectivos regimes. Assim de repente, ocorrem-me os do Luxemburgo, da França, da Inglaterra, da Bélgica, da Holanda, para não falar dos Estados Unidos que, depois do que fizeram para evitar a falência do gigante AIG, andam às voltas com o famoso plano Paulson que, grosso modo, se propõe injectar no sistema financeiro americano, todo ele privadíssimo, centenas de milhares de milhões de dólares que, obviamente serão pagos pelos contribuintes...
Dizem-nos que a alternativa seria ainda pior e acreditamos que sim. Embora não possamos impedir-nos de pensar que a manobra evidencia que privados se mantêm os lucros, para se socializarem os prejuízos... Os ganhos foram em benefício de alguns; as perdas são assumidas por todos.
Quando um problema se coloca, há três maneiras de o abordar. A primeira consiste em culpar as pessoas, a segunda em o atribuir às estruturas, a terceira e última em remeter para os princípios. É nesta que nos vamos fixar. Dos princípios derivam as estruturas e são eles que ditam as normas de actuação das pessoas.
Se bem olharmos, o sistema financeiro tem funcionado tendo como princípio fundamental a maximização do lucro. Ora, não é essa a sua função. Na sua natureza, o sistema financeiro existe para servir a sociedade, isto é, os homens que a compõem, e o lucro, legítimo que é, deve conceber-se como um derivado do exercício daquela actividade. Colocar o lucro como objectivo principal do sistema financeiro é violentar a sua natureza. E a natureza, quando é violentada, vinga-se. “Deus perdoa sempre, os homens perdoam algumas vezes, a natureza não perdoa nunca”, temos ouvido dizer muitas vezes. É também o que acontece no caso vertente. A gestão do sistema financeiro tem sido feita nestes últimos anos com base neste atropelo. Veja-se só, a título de exemplo, o sistema remuneratório dos gestores, que ganharão em função dos resultados – a mais lucros corresponderão maiores ganhos. Assim, a gestão, ainda que feita nos limites do legal, deixa de ter preocupações éticas ou morais. E, acreditem, é aqui que se situa a razão da crise.
Sempre que o homem age contra, ou à revelia do que as coisas são, está a estabelecer um novo conceito de bem e de mal – está a cair na tentação original da serpente: “Sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal”. (Gen., 3, 4) Se o bem é o lucro, a ele tudo se sacrifica. Assim se fez – e os resultados estão à vista. Não é em vão que o dinheiro ocupa o lugar de Deus. E quando não se serve a Deus, é o homem que sai prejudicado.
Julguei que não seria descabido recordar estas palavras num tempo em que, por todo o mundo, o medo de um colapso financeiro se instalou e tem levado a intervir governos que o fazem ao arrepio da filosofia dominante nos respectivos regimes. Assim de repente, ocorrem-me os do Luxemburgo, da França, da Inglaterra, da Bélgica, da Holanda, para não falar dos Estados Unidos que, depois do que fizeram para evitar a falência do gigante AIG, andam às voltas com o famoso plano Paulson que, grosso modo, se propõe injectar no sistema financeiro americano, todo ele privadíssimo, centenas de milhares de milhões de dólares que, obviamente serão pagos pelos contribuintes...
Dizem-nos que a alternativa seria ainda pior e acreditamos que sim. Embora não possamos impedir-nos de pensar que a manobra evidencia que privados se mantêm os lucros, para se socializarem os prejuízos... Os ganhos foram em benefício de alguns; as perdas são assumidas por todos.
Quando um problema se coloca, há três maneiras de o abordar. A primeira consiste em culpar as pessoas, a segunda em o atribuir às estruturas, a terceira e última em remeter para os princípios. É nesta que nos vamos fixar. Dos princípios derivam as estruturas e são eles que ditam as normas de actuação das pessoas.
Se bem olharmos, o sistema financeiro tem funcionado tendo como princípio fundamental a maximização do lucro. Ora, não é essa a sua função. Na sua natureza, o sistema financeiro existe para servir a sociedade, isto é, os homens que a compõem, e o lucro, legítimo que é, deve conceber-se como um derivado do exercício daquela actividade. Colocar o lucro como objectivo principal do sistema financeiro é violentar a sua natureza. E a natureza, quando é violentada, vinga-se. “Deus perdoa sempre, os homens perdoam algumas vezes, a natureza não perdoa nunca”, temos ouvido dizer muitas vezes. É também o que acontece no caso vertente. A gestão do sistema financeiro tem sido feita nestes últimos anos com base neste atropelo. Veja-se só, a título de exemplo, o sistema remuneratório dos gestores, que ganharão em função dos resultados – a mais lucros corresponderão maiores ganhos. Assim, a gestão, ainda que feita nos limites do legal, deixa de ter preocupações éticas ou morais. E, acreditem, é aqui que se situa a razão da crise.
Sempre que o homem age contra, ou à revelia do que as coisas são, está a estabelecer um novo conceito de bem e de mal – está a cair na tentação original da serpente: “Sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal”. (Gen., 3, 4) Se o bem é o lucro, a ele tudo se sacrifica. Assim se fez – e os resultados estão à vista. Não é em vão que o dinheiro ocupa o lugar de Deus. E quando não se serve a Deus, é o homem que sai prejudicado.
©J. Tomaz Ferreira