(oração)
“Meu Deus, quando despendia o meu esforço, deleitava-me sentindo que, ao desenvolver-me, aumentava a posse que tínheis de mim; deleitava-me também, sob o impulso interior da vida ou no jogo favorável do que ia acontecendo, em me abandonar à Vossa Providência. Fazei que, depois de ter descoberto a alegria de todo o crescimento para Vos fazer ou deixar crescer em mim, eu chegue, sem me perturbar, a esta última fase da comunhão, no decorrer da qual Vos possuirei perdendo-me em Vós.
Depois de Vos ter conhecido como aquele que me faz ‘mais eu mesmo’, fazei, quando chegar a minha hora, que eu Vos reconheça em cada potência, estranha ou inimiga, que pareça querer destruir-me ou suplantar-me. Quando sobre o meu corpo (e mais ainda sobre o meu espírito) começarem a vincar-se as marcas do desgaste da idade; quando cair sobre mim vindo de fora, ou nascer em mim vindo de dentro o mal que nos diminui ou nos vence; no minuto doloroso em que, de repente, tomar consciência de que estou doente e a fazer-me velho; sobretudo naquele último momento em que sentir que escapo a mim próprio, absolutamente passivo nas mãos das grandes forças desconhecidas que me formaram; em todas essas horas sombrias, concedei-me, ó meu Deus, que compreenda que sois Vós que dilacerais dolorosamente as fibras do meu ser para penetrar até ao mais íntimo da minha substância, para me levardes para Vós.
Sim, quanto mais, no fundo da minha carne, o mal está incrustado e não é passível de cura, tanto mais podeis ser Vós a quem eu abrigo como um princípio amante e activo de purificação e desprendimento. Quanto mais o futuro se abrir diante de mim como um abismo vertiginoso ou uma passagem obscura, se eu me aventurar nele confiado na Vossa palavra, tanto mais posso confiar que me precipito e perco em Vós – assimilado, Jesus, pelo vosso corpo.
Ó Energia do meu Senhor, força irresistível e viva, porque, de nós dois, sois Vós infinitamente o mais forte, é a Vós que compete a tarefa de me queimar na união que juntos nos deve fundir. Concedei-me, pois, algo de mais precioso do que a graça que Vos pedem todos os Vossos fiéis. Não me basta morrer comungando. Ensinai-me a comungar morrendo.”
“Meu Deus, quando despendia o meu esforço, deleitava-me sentindo que, ao desenvolver-me, aumentava a posse que tínheis de mim; deleitava-me também, sob o impulso interior da vida ou no jogo favorável do que ia acontecendo, em me abandonar à Vossa Providência. Fazei que, depois de ter descoberto a alegria de todo o crescimento para Vos fazer ou deixar crescer em mim, eu chegue, sem me perturbar, a esta última fase da comunhão, no decorrer da qual Vos possuirei perdendo-me em Vós.
Depois de Vos ter conhecido como aquele que me faz ‘mais eu mesmo’, fazei, quando chegar a minha hora, que eu Vos reconheça em cada potência, estranha ou inimiga, que pareça querer destruir-me ou suplantar-me. Quando sobre o meu corpo (e mais ainda sobre o meu espírito) começarem a vincar-se as marcas do desgaste da idade; quando cair sobre mim vindo de fora, ou nascer em mim vindo de dentro o mal que nos diminui ou nos vence; no minuto doloroso em que, de repente, tomar consciência de que estou doente e a fazer-me velho; sobretudo naquele último momento em que sentir que escapo a mim próprio, absolutamente passivo nas mãos das grandes forças desconhecidas que me formaram; em todas essas horas sombrias, concedei-me, ó meu Deus, que compreenda que sois Vós que dilacerais dolorosamente as fibras do meu ser para penetrar até ao mais íntimo da minha substância, para me levardes para Vós.
Sim, quanto mais, no fundo da minha carne, o mal está incrustado e não é passível de cura, tanto mais podeis ser Vós a quem eu abrigo como um princípio amante e activo de purificação e desprendimento. Quanto mais o futuro se abrir diante de mim como um abismo vertiginoso ou uma passagem obscura, se eu me aventurar nele confiado na Vossa palavra, tanto mais posso confiar que me precipito e perco em Vós – assimilado, Jesus, pelo vosso corpo.
Ó Energia do meu Senhor, força irresistível e viva, porque, de nós dois, sois Vós infinitamente o mais forte, é a Vós que compete a tarefa de me queimar na união que juntos nos deve fundir. Concedei-me, pois, algo de mais precioso do que a graça que Vos pedem todos os Vossos fiéis. Não me basta morrer comungando. Ensinai-me a comungar morrendo.”
Teilhard de Chardin, Le Milieu divin, Seuil, Paris, 1957, pp.94-96.
(Trad. De J. Tomaz Ferreira)