«Provavelmente, Deus não existe». Este é o slogan que circulou (circula?) nos autocarros de Londres pago por uma organização militantemente ateísta. Há alguns dias esta campanha começou a circular pelas ruas de Madrid.
«Deus existe» é a resposta evangélia de uma Igreja madrilena à questão levantada pela associação ateísta.
Deus anda pelas ruas da Europa laica. Pelo menos isto, uma e outra organização conseguiram fazer. O que de facto não é uma questão de menor importância. Há muito que deixámos de regular a nossa existência pela Liturgia das Horas, esse compendêndio inefável de Esperança. Por isso, pôr Deus a todas as horas por entre o nosso olhar é uma gloriosa manifestação de inteligência, que por ser europeia, neste tempo, confesso, muito me surpreendeu.
Quando tenho dúvidas sobre a existência de Deus, ou essas dúvidas persistem no tempo, mais do eu mesma permito ao tempo, porque, como sabem, há dúvidas que valem a pena que perdurem, releio S. João da Cruz e o seu maravilhoso poema, Noite Escura.
E aí, no meio da dúvida, calma e serenamente começa a nascer a palavra mágica: provavelmente, provavelmente Deus existe, depois, o provavelmente, torna-se dia a dia mais seguro e de repente, a palavra provavelmente transforma-se em certamente, é então que o certamente Deus existe triunfa, uma vez mais, no coração e na mente de uma «pobre» mulher. Até quando?
Agrada-me ver algumas cidades europeias infestadas pela dúvida. Ao menos a dúvida. A dúvida é sempre um bom passo para a inteligência transformar-se em sapiencia. Não é este o trajecto do pensamento alicerçado na razão?
O grupo dos ateus militantes da nossa esquerda não querem importar a ideia do «provavelmente Deus não existe» ou acham que a questão está mal posta?