segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

Não existisse a fome nem a guerra

Apenas houvesse paz em toda a Terra

Tiranos não mandassem neste mundo

Amor somente houvesse e nenhum mal

Logo eu vos diria: BOM NATAL!
Quadra de Fernando Melro

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O R A Ç Ã O


E agora chamamos por ti, Senhor,
porque és o Salvador dos homens
e Homem Todo Poderoso,
porque habitas na Tua Misericórdia,
na justiça e no perdão.

Move os nossos corações para desejos santos,
põe nas nossas bocas orações de Paz
e faz com que a nossa vida Te seja agradável.

Não Te pedimos, Senhor,
que renoves o Teu nascimento no mundo,
mas antes que nos conduzas à Tua divindade!

E permite, Senhor,
que o que a Tua graça realizou outrora
no corpo de Maria,
o faça em espírito na Tua Igreja.

Que a Sua Fé Te conceba,
Que a Sua inteligência Te renove,
Que a sua alma Te conserve eternamente.

Oração do Missal Moçárabe

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O QUE RESTA DO NATAL?

Lembro-me do Natal da minha infância, em que a figura central era o Menino Jesus. Construía-se o presépio na igrejinha da aldeia, e a garotada toda corria os campos em alvoroço a arrancar musgo das pedras e carrear cestas cheias dele para cobrir o chão do presépio onde assentava a cabaninha com a manjedoura em que se deitava o menino recém-nascido, abrindo já os braços e sorrindo. S. José e Nossa Senhora ladeavam-no embevecidos, e não faltavam, entre muitas outras, ingénuas s toscas, as figurinhas da vaca e do burro a aquecer com o seu bafo quente as tenras carnes do Menino envoltas em panos.
No fim da Missa, dava-se o Menino a beijar e cantava-se o júbilo do Natal:
Alegrem-se os Céus e a Terra,
Cantemos com alegria;
Já nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria.
Também havia as prendas: mas era o Menino Jesus quem as dava. Descia furtivamente pela chaminé e depositava-as nos sapatos que a pequenada deixara junto da lareira. Os meus tiveram muito cedo o cuidado de explicar que as prendas eram eles que as compravam. Mas era o Menino Jesus que as dava, pois era d’Ele que lhes vinham saúde e forças para trabalhar e nos darem sustento e prendas.
Tudo muito simples, muito ingénuo, muito pobre, muito autêntico.

Tenho saudades desse Natal quando por esta quadra olho o que se passa à minha volta. O que resta do Natal?
Do Menino Jesus não se fala, ainda que uma ou outra rotunda (estão de moda as rotundas) ostente as figuras do presépio. Substituíram-no por um velho de barbas a que chamam Pai Natal, mas que, tirando o nome, nada tem a ver com o dito, vindo não sei bem de onde, mas não com certeza da nossa tradição cultural. Depois, “plantam” nas ruas e nas casas uma árvore de Natal, bem enfeitada e cheia de luzes que também não sei de onde nasceu – mas que não tem raízes na nossa tradição.
Para além disso, há as compras e as prendas: o centro comercial é agora o templo da nova religião consumista, e, em vez do presépio, veneramos as montras vistosas a apelar ao consumo.
Devorados pelo afã das compras, embriagados pelo piscar das luzes e a estridência das músicas, será que ainda resta no nosso coração lugar para acolher o Filho de Deus que veio até nós na humildade e no despojamento para nos trazer a salvação do nosso Deus?

J. Tomaz Ferreira

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DIA DE NATAL

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Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caiam
crivados de balas.

Dia da Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A ALMA DA EUROPA

Lembro-me de ter lido há anos esta frase de Eduardo Lourenço: “A Europa será cristã ou não será”. Não é o único a pensar assim. Colho da crónica de Frei Bento Domingues (Público, 7 de Dezembro) afirmações de Goethe (“a língua materna da Europa é o cristianismo”) e de Kant (“a fonte da qual brota a nossa civilização é o Evangelho”) que vão no mesmo sentido. E, mais explícito ainda, T. S. Eliot: “um cidadão europeu pode não pensar que o cristianismo seja verdadeiro e, contudo, o que diz e faz brota da cultura cristã de que é herdeiro. Sem cristianismo, não teria havido nem sequer um Voltaire ou um Nietzsche. Se o cristianismo desaparece, desaparece também o nosso rosto”.
Apesar de sustentada por tão ilustres nomes, a tese segundo a qual é no cristianismo que se deve procurar o âmago da alma da Europa não é hoje pacífica. Muitos a procuram alhures e para tantos a raiz do que se pode chamar o espírito europeu deve ser buscado antes nos ideais da Revolução Francesa. De facto, esses ideais, condensados na trilogia Liberdade, Igualdade, Fraternidade colhem a sua concretização menos imperfeita, antes de mais na forma de governo democrático vigente em praticamente todos os países do Velho Continente (a Bielorússia seria a excepção), e o tão proclamado modelo social europeu que a Europa apresenta como traço distintivo da sua cultura política.
Acontece que a tão apreciada tríade (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) da Revolução Francesa deriva directamente da mensagem cristã, como claramente se demonstra alinhando alguns textos do Novo Testamento. E nem é preciso invocar-lhes o espírito: a própria letra é de si suficientemente explícita.
Poucas dúvidas haverá quanto à fraternidade. No cerne da mensagem cristã está a Boa Nova de que Deus é Pai de todos os homens e que a todos trata como filhos. A conclusão lógica é a fraternidade universal: “Um só é o vosso Mestre e vós todos sois irmãos”. (Mt., 23, 8), A que podemos juntar a síntese Paulina (Ef., 4, 5): “Um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos”.
É de resto nesta fraternidade real que radica o Amor que Cristo quis que fosse o traço distintivo da condição de cristão: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo., 13, 35).
Desta fraternidade com raiz no próprio Deus, fácil seria deduzira igualdade. Mas não é preciso – ela é formulada de forma explícita em numerosos textos. Em primeiro lugar, a igualdade entre todos os homens sem distinção de raça, de sexo, ou condição social: “Não há judeu nem grego, não há servo nem homem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal., 3, 28). Desta igualdade radical resulta que nenhum se deve considerar superior aos outros. O Evangelho dá conta das querelas que grassavam entre os discípulos para saber quem era o maior. Perguntam a Jesus quem é o maior no Reino dos Céus. Jesus chama uma criança e diz que quem se fizer pequeno como ela será o maior no Reino dos Céus. Nem o exercício do poder quebra a igualdade radical que nasce da fraternidade. Com efeito, “os príncipes deste mundo dominam as pessoas e os grandes exercem poder sobre elas; não será assim entre vós, mas entre vós o que quiser ser o maior faça-se vosso criado, e o que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo” (Mt., 20, 26-27; cf. Luc., 22, 24, segs.).
Resta-nos a liberdade e talvez se julgue que esta foi ignorada ou minimizada. Nada mais contrário à mensagem do Novo Testamento que inequivocamente se apresenta como Boa Nova da libertação. Abstemo-nos de teologizar a liberdade dos filhos de Deus, e começamos por citar a proclamação lapidar de S. Paulo: “Onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade” (2Cor., 3, 17). Eu sei que muitos pressupõem a presença do Espírito e daí concluem, na circunstância, a presença da liberdade. Pensemos um pouco. Não é o Espírito de Deus (invisível e inobservável) que pode servir de critério donde se conclua a existência da liberdade. É esta – visível e observável – que deve servir de critério a avalizar a presença do Espírito de Deus. Não tenhamos ilusões: mesmo nas coisas mais sagradas, se não houver liberdade, não está o Espírit o do Senhor. Porque, como diz S. Paulo, “Foi para a liberdade que vós fostes chamados” (Gal., 5, 13).
Isto dito, só temos que lamentar que, ao longo dos séculos, os cristãos não tenham levado à prática a doutrina de que eram portadores. E que, por isso mesmo, a Revolução Francesa, que se reclamava de ideais eminentemente evangélicos, se tenha feito também contra a instituição Igreja. Mas quando falarmos dos ideais da Revolução Francesa, temos que nos lembrar que foi da fecunda raiz cristã que eles brotaram. Para sermos honestos, é nela que devemos procurar a alma da Europa.

J. Tomaz Ferreira

domingo, 7 de dezembro de 2008

A FESTA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Tu, Virgem pura, santa, Ave Maria,
Cheia de Graça, Esposa, Filha e Madre,
Mais formosa que o sol ao meio dia,

Que vás buscando ao Esposo, Filho e Padre,
Qual cordeira perdida da manada,
Sem guarda de pastor, nem cão que ladre;

Vai, Rainha dos Anjos mui amada,
E preciosa pedra adamantina,
De perfeições e graças esmaltada;

Vai, estrela do mar; vai, luz divina,
Escolhida do Céu; vai, cordeirinha,
Branca açucena e rosa matutina;

Vai, caminho da glória, vai, pombinha
Branca sem fel; bendita entre as mulheres;
Vai, mãe da Lei da Graça, vai asinha

Ao monte Calvário, se ver queres
Ao teu precioso Filho antes de morto.
Desconsolada vai; vai, não esperes
!
Camões

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O PROGRAMA DE UM SANTO

“Procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, sem querer resolver de uma só vez todos os problemas da minha vida. Hoje, apenas hoje, terei o máximo cuidado na minha convivência: afável nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar, nem corrigir ninguém à força senão a mim mesmo. Hoje, apenas hoje, serei feliz na certeza de que fui criado para a felicidade ,não só no outro mundo mas também
já neste. Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que sejam todas as circunstâncias a adaptarem-se aos meus desejos. Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura. Assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária para a vida do espírito. Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custa fazer; e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba. Hoje, apenas hoje, farei uma boa acção e não o direi a ninguém. Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos escrevê-lo-ei. E fugirei de dois males: a pressa e a indecisão. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente – embora as circunstâncias mostrem o contrário – que Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo. Hoje, apenas hoje, não terei qualquer medo. De modo especial não terei medo de apreciar o que é belo e de crer na Bondade.”
JOÃO XXIII

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

San Zacaria


O MEU ADVENTO

Todos os anos o ciclo da Liturgia nos traz a festa do Natal em que se comemora o nascimento de Jesus. E, a precedê-lo, quatro semanas que se querem de penitência (i. é de transformação interior) em que é suposto os cristãos prepararem-se para a vinda do Senhor.
O Advento é um tempo de espera e um tempo de esperança. Na representação que o ano litúrgico faz da História da Salvação, o Advento figura o tempo que precedeu a vinda do Salvador: a espera do Mundo e a esperança de Israel, pois só o povo eleito estava consciente da promessa de Deus. O Messias veio, realizou a obra que o Pai lhe cometera de salvar os homens e regressou ao seio do Pai, enquanto na Terra a Igreja, novo Povo de Deus, perpetua a Sua missão salvadora e o grande Mundo segue o rumo da História. Mas também este é um tempo de espera e de esperança – porque o Senhor há-de voltar outra vez. Por isso, bem podemos dizer que a história dos homens se desdobra em dois tempos de Advento: o primeiro a culminar na incarnação do Verbo; o segundo a decorrer diante de nós, em que tudo se prepara para a segundo vinda do Senhor a colher os frutos da Redenção em marcha naquilo a que me atrevo a chamar a maturação da História.
Os primeiros cristãos, perseguidos e humilhados, ansiavam pela segunda vinda do Senhor, que seria, afinal, o tempo do seu triunfo. E pensavam que estaria para breve o tempo dessa vinda que não se cansavam de implorar. É comovente, nesse aspecto, o Epílogo do Apocalipse de S. João que termina justamente com o grito ansioso: “Vem, Senhor Jesus!”, grito que se segue à promessa que o precede: “Sim, virei brevemente”. E essa promessa aparece como resposta aos apelos feitos atrás: “O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Diga também o que escuta: Vem!” (Cf. Apoc., 22, 17-20).
Já lá vão dois mil anos, e o Senhor não voltou. E aqui será de lembrar a observação do Salmista: “Mil anos aos olhos de Deus são como o dia de ontem que passou” (Ps. 89, 4). O “brevemente” de Deus não é igual ao “brevemente” dos homens.
Não podemos esquecer que a obra da Redenção operada por Cristo implica uma continuação a realizar pelos seus discípulos a quem Ele próprio enviou para anunciarem a Boa Nova por toda a Terra. E que nessa Boa Nova se inclui a esperança dos “novos céus e da nova terra” (Cf. 2Pet., 3, 12). É a dimensão cósmica da Redenção que, extravasando dos homens, se alarga à criação inteira. São claríssimas, nesse sentido, as palavras de S. Paulo: “Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de revelar em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. De facto, a criação foi sujeita à destruição (...) na esperança de que também ela será libertada da escravidão da corrupção para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores do parto até ao presente.” (Rom., 8, 18-22)
Isto significa que toda a criação comunga da espera pela segunda vinda do Senhor. É este também o meu Advento. Mais do que comemorar a espera duma vinda que já aconteceu, comungo, nas dores do Mundo (tantas e tão patentes aos nossos olhos) a espera pela segunda vinda do Senhor.
Uma espera que será longa – como já avisara S. Pedro aos cristãos do seu tempo (Cf. 2Pet., 3, 8-10). Mas que todos somos convidados a viver na esperança.
J. Tomaz Ferreira