sábado, 6 de fevereiro de 2010

C A T Ó L I C O P R A T I C A N T E

O que se deve entender por católico praticante? Naturalmente, aquele que cumpre os seus deveres religiosos, a saber, os que derivam do facto de ser cristão.
O cristão é, antes de mais, um crente, uma pessoa de Fé. O objecto da sua Fé é a pessoa de Jesus. Retomando a simples e brevíssima fórmula das primitivas comunidades cristãs, aquele que acredita em Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador, e a Ele adere para ser salvo. Porque a Fé não envolve apenas a inteligência. Mais do que a aceitação intelectual duma verdade ou de um conjunto de verdades abstractas, a Fé é a adesão a uma pessoa que se apresenta como salvador. Ter Fé é ser discípulo de Cristo, seguir as suas pisadas, conformara a própria vida ao que foi a vida de Jesus. Aliás, a missão que Jesus confiou aos seus discípulos não foi propriamente a de “ensinar todos os povos” como resulta duma deficiente tradução de Mt., 28, 19. O que lá se diz é “de todos os povos fazei discípulos”.
Assim, o católico praticante é aquele que conduz a sua vida seguindo os passos de Jesus, deixando-se orientar pelos valores que Jesus traduziu na sua própria vida. Esses valores é possível lê-los nos ensinamentos de Jesus, mas encontrá-los também no seu proceder, No episódio das tentações de Cristo, é possível identificar três linhas de conduta que Jesus liminarmente rejeitou: a procura da riqueza, a busca da notoriedade, o engodo do poder. Não se encontram nos procedimentos de Jesus, tal como nos são reportados pelos evangelhos, vestígios de cedência a nenhum destes três objectivos. O Filho do Homem era um pobre que não tinha onde reclinar a cabeça; quando fazia milagres, recomendava aos miraculados que não dissessem a ninguém; e claramente não quis que os que tinham autoridade se comportassem como os que na terra têm poder: o maior de entre eles devia considerar-se como o servo de todos.
Quanto à vida religiosa, a vigorosa denúncia que fez do proceder dos fariseus é a condenação veemente duma religião sem alma que se esgotava na prática de ritos, sem ter em conta e prescindindo mesmo do essencial da Lei. Leia-se o capítulo 23 do evangelho de S. Mateus e aí se verá como Cristo abominava a prática de ritos externos sem correspondência no interior: “Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade” (Mt., 23, 23).
É por isso que me arrepia a mentalidade dominante segundo a qual o católico praticante é aquele que vai a Missa todos os domingos e se confessa uma vez por ano. Nesta exigência redutora identifico vestígios do ritualismo oco tão claramente abominado por Jesus. Não que despreze a Eucaristia ou a Penitência. Como Cristo a propósito das miudezas da Lei, também eu direi que é preciso “fazer isto e não omitir aquilo” (cf.
Mt., 23, 23). Mas um cristianismo reduzido à prática de ritos será sempre uma versão diminuída das exigências do ser cristão. É, em suma, um cristianismo fácil, que se arruma dedicando à religião uma hora por semana. As exigências da prática cristã pervadem a vida toda, o dia inteiro, todas as circunstâncias da vida que têm de ser avaliadas à luz das exigências evangélicas, e vividas em consequência. Católico praticante é o que assim procede: o que aprendeu as bem-aventuranças, o que cumpre as obras de misericórdia, o que recita o Pai nosso com verdade, o que interiorizou que o amor é a virtude que identifica os discípulos de Cristo: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo., 13, 35).
J. Tomaz Ferreira