domingo, 13 de dezembro de 2009

M A G N I F I C A T

S. Lucas guardou no seu Evangelho o cântico que Maria terá entoado quando, após a anunciação do Anjo de que iria ser a mãe do Salvador, se encontrou com sua prima Santa Isabel, tocada também ela pela graça do Céu para ser a mãe de João Baptista. Falamos do Magnificat, tal como nos aparece em Lucas, cap. I, vv. 46-55.
É um hino muito belo de louvor a Deus, de agradecimento pelas maravilhas que operou, mas também de revelação dos desígnios de Deus acerca dos homens:
Manifestou a força do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos
e aos ricos despediu-os de mãos vazias.(vv. 51-53)

Maurras, fundador da Action Française, que de todo não se revia em semelhante concepção do mundo, viu bem a força subversiva destas ideias e agradeceu à Igreja por ter embrulhado conceitos tão agrestes e perigosos em música suave que lhes retirava a força agressiva que realmente continham. Já o agnóstico Paul Claudel encontrou a Fé ao ouvi-las cantar na catedral de Notre Dame. De facto, este elogio da humildade e da pobreza é bem a antecipação abreviada do programa de vida proposto por Jesus nas Bem-aventuranças.
Eu sei que casa mal com a cultura dominante, obcecada pela ganância, ávida de poder e de notoriedade, esta exaltação do despojamento e da humildade. Mas, se olharmos para os males que se abateram sobre o mundo, nomeadamente os mais recentes, não é difícil concluir que a crise que vivemos é realmente fruto da ganância de muitos que, do alto da sua soberba, não tiveram a humildade de reconhecer a realidade das coisas e julgaram poder afeiçoá-las à sua vontade.
Apetece-me citar Santa Teresa de Ávila quando escreve que “a humildade é a verdade”. A que acrescentareis a aguda observação que Baruc Espinoza nos deixou na sua Ética: “Se supusermos um homem que tem consciência da sua fraqueza, porque conhece algo de mais poderoso do que ele próprio, e através desse conhecimento delimita o seu próprio poder de acção, não conhecemos nada mais do que um homem que se conhece perfeitamente a si próprio, isto é, que tem consciência de que o seu poder de acção é secundado”.
Não haverá cristão que não subscreva estas observações.

J. Tomaz Ferreira