sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O M E U A D V E N T O

Estamos no tempo do Advento, aquele tempo em que a Igreja convida os seus filhos a prepararem-se para celebrar o mistério maior da nossa Fé: a Incarnação do Verbo, a assunção por Deus da natureza humana para se fazer um de nós, igual em tudo aos outros homens, excepto no pecado – como judiciosamente observa S. Paulo.
E aos nossos ouvidos a liturgia faz ecoar as palavras dos Profetas, interpretes da expectativa ansiosa com que o Povo de Deus, com que (porque não dizê-lo?) toda a humanidade aguardava aquele momento culminante da História em que, assumindo o risco do compromisso com a mesma História, Deus se fazia seu agente directo, não já apenas através das causas segundas, mas em pessoa. “Mandai, ó céus, lá do alto o vosso orvalho; que as nuvens façam chover o Justo; abra-se a terra e germine o Salvador”. (Is., 45, 8). E a expectativa comemorada culmina na comemorada celebração do nascimento de Jesus – de qualquer modo um acontecimento passado que, passível embora de ser repristinado por cada um à sua maneira, não deixa de ser passado, por força mesmo do compromisso com a História de que falámos.

Mas há um Advento que se pode celebrar não como memória de um tempo passado, mas como vivência de um tempo presente. Lembro-me, aliás, de que, antes da reforma litúrgica em vigor, se lia em dois domingos seguidos o evangelho do fim do mundo: era no último domingo depois do Pentecostes e no primeiro domingo do Advento. Justamente. A Mãe Igreja fazia questão, no início da caminhada para o Natal, de lembrar ao Povo de Deus que o seu tempo presente é um tempo de espera e de expectativa, não apenas em sentido comemorativo, mas no sentido real do presente que se vive. Porque o grande sentido da caminhada do Povo de Deus ao longo dos séculos é esta atitude de espera e de esperança no Senhor que vem
E o Senhor virá quando a grande obra da Redenção, que Ele realizou morrendo na cruz, se encontrar consumada também na sua dimensão cósmica.
Há um texto precioso (infelizmente muito esquecido) de S. Paulo no capítulo VIII da Epístola aos Romanos, em que o Apóstolo é muito claro e impressivo quanto a esta dimensão cósmica da Redenção: a criação inteira vive uma expectativa ansiosa aguardando a revelação dos filhos de Deus (v. 19), quando ela própria será libertada da escravidão da corrupção para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus (v. 21); e a criação vive essa expectativa em sofrimento, pois “geme e sofre as dores do parto” (v. 22) até que chegue o momento em que a Redenção de Cristo se encontre consumada – e então o Senhor virá em glória.
É este o Advento real e não apenas simbólico que se encontra em curso e que somos convidados a viver activamente todos os dias. Porque este trabalho é obra de Deus (“o meu Pai continua a operar e eu também”, disse Jesus – Jo., 5, 17) mas é também obra dos homens que vivem no mundo e operam no mundo o trabalho de Deus.
E o mundo, a criação fará o seu caminho até à Parusia – a revelação do Cristo glorioso que então e só então poderá entregar ao Pai todas as criaturas que o próprio Pai submeteu ao seu domínio, e DEUS SERÁ TUDO EM TODAS AS COISAS (Cf. 1Cor., 15, 28).
É este o grande Advento que me seduz. É ele que dá sentido a quanto fazemos os que acreditamos que, para glória de Deus Pai, Jesus Cristo é o Senhor. Ámen. Vem, Senhor Jesus.
J. Tomaz Ferreira