sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Porque morreu Jesus? - Parte II

Como é evidente, esta linguagem e a mensagem que transmitia não podia deixar de irritar os visados, e a prática da religião segundo os parâmetros definidos por Jesus punha claramente em causa o que podemos chamar de establishment do tempo. De resto, os evangelhos estão cheios de episódios em que Jesus discute asperamente com os seus opositores, e de outros em que eles claramente tentaram armadilhas que lhes permitissem apanhar Jesus em falso para o poderem acusar. Lembremos, só a título de exemplo, o caso da mulher adúltera (cf., Jo. 8, 1-11). Nestes duelos verbais a vitória inclina-se sempre para o lado de Jesus que em todos eles evidencia uma serenidade, uma argúcia, uma presença de espírito que dizem bem das suas qualidades de inteligência. Tudo se enquadrava numa estratégia de descrédito da pessoa. Falhada esta, havia que procurar a sua destruição. E é o que acontece.
Jesus acaba por ser preso no Jardim de Getsemani pela calada da noite na quinta feira antes da Páscoa à ordem da autoridade religiosa do povo de Israel (então dominado politicamente pelo poder romano). É levado a tribunal – o Sinédrio – e aí é condenado à morte. Justa ou injusta, a sua condenação?
A simples pergunta ofende a sensibilidade cristã. No entanto, ela é legítima e a resposta só pode ser dada após analisadas as actas do processo em que os três evangelistas sinópticos concordam.
O julgamento começa com a audição das testemunhas – que pouco ou nada adiantam para o objectivo pretendido, que era a condenação à morte. O mais grave que lhe imputam é o ter dito que, se destruíssem o templo, ele podia reconstruí-lo em três dias.
Compreende-se a frustração do Sumo Sacerdote que, impaciente, resolve interrogar o réu no intuito de obter uma confissão. E pergunta: És tu o Messias, o Filho do Deus bendito? Jesus respondeu: Eu sou. (Mc., 14, 61; cf. Mt., 26, 65-66; Lc., 14, 61-64) Ouvido isto O Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia! Que vos parece? E todos sentenciavam que ele era réu de morte (Mc., loc. cit.).
Efectivamente, Jesus tinha blasfemado ao afirmar claramente que era o Filho de Deus. Se a blasfémia consiste em atribuir à criatura os atributos do Criador, blasfémia maior não se pode imaginar do que aquela que Jesus tinha proferido. Ora, no ordenamento jurídico judaico, ao crime de blasfémia correspondia a pena de morte. Compreende-se a unanimidade do Sinédrio, que aplicava com justiça a pena merecida por um réu confesso de um crime de morte. Donde se conclui que foi justa a condenação de Jesus.
A justeza desta conclusão só pode ser infirmada se no processo introduzirmos o elemento FÉ. A sentença só é, de facto, injusta, porque, na realidade, Jesus era o Filho de Deus.
Assim, à pergunta por que morreu Jesus a resposta certa é porque não acreditou na sua palavra o povo a quem fora enviado.


J. Tomaz Ferreira