sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O curso de pianista


Era uma vez…dois meninos que se conheceram e tornaram amigos nos primeiros tempos do liceu, mantiveram e consolidaram esse sentimento à medida que progrediam nos estudos de direito da Universidade de Milão,
e refinaram-no, certamente, no conservatório onde se matricularam, no mesmo dia em que ingressavam na Universidade. No entanto, o canudo que tinham na mão, não era chave para um bom emprego, e muito menos para abrir banca de advogados. E como Confalonieri era bom pianista e Berlusconi bom cantor, deixaram-se seduzir pelas ondas e outros encantos mediterrâneos; foi assim, que este duo fez dançar turistas de todas as origens e condições nos inumeráveis cruzeiros mediterrâneos, seus principais animadores. Entretanto, como que distraidamente, puseram a funcionar uma estação televisiva numa garagem
milanesa.
Enquanto o nome de Berlusconi começou a aparecer nas páginas dos jornais há mais de uma dúzia de anos – primeiro, graças ao futebol, depois, com o crescimento e multiplicação das actividades televisivas,- o amigo Fedele segue-o sempre, excepto quando il cavaliere cria sobre as ruínas da democracia cristã um novo partido político, e daí a primeiro ministro foi um salto. Sem a colaboração de Confalonieri, Berlusconi nunca poderia erguer um império televisivo que, com três cadeias, faz uma acesa concorrência à RAI, a televisão do estado. Presidente da Associação das televisões italianas, presidente da Orquestra do Scala de Milão, de Mondadori – o maior editor italiano - e do diário, Il Giornale, Fedele tem as paredes do escritório atapetadas de diplomas « doctor honoris causa » de não sei quantas universidades.
Apesar desta vida bem preenchida, Fedele, aos setenta anos, ainda não conse-guira calar o bichinho que, desde menino, lhe roía a cabeça: não tinha termi-nado o curso de conservatório que interrompera em 1958, com a elevada clas-
ficação de 8,25/10. Tinha, tinha que terminar o curso ou quem era ele? E em
vez de ir sentar-se na cadeira de presidente da Câmara de Milão, arranjou um
professor de piano, e pôs-se a estudar à noite, sábados e domingos e durante
todo o passado verão. Quando chegou o outono, com pouco mais de setenta anos, o Dr. Fedele Confalonieri deliciou os seus examinadores do Conserva-tório de Milão com a Appasionata de Beethoven, a Fantasia em dó de Schumann, e a Rapsódia de Brahms. Certamente, só agora Fedele é um homem completa-mente feliz; teve tudo: dinheiro, honras, poder, etc…faltava-lhe a realização de um sonho… um sonho lindo! Parabéns, Dr. Fedele! Como deve ter sido enaltecedor ter trabalhado consigo! Não está nos altares, mas o seu retrato fica bem nas escolas, nas oficinas, e nos escritórios de qualquer país que mereça o título de civilizado. E não será um exemplo da parábola do Evangelho, sobre os três talentos?
f.moura