segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um conto de Tolstoi - por Lauro Trevisan

Antologia

UM CONTO DE TOLSTOI
“Um aldeão russo, muito devoto, tinha pedido nas suas orações durante anos, que Jesus o viesse visitar uma Vaz só que fosse na sua humilde cabana.
uma noite, sonhou que o Senhor, no dia seguinte, havia de lhe aparecer; e tão certo ficou de que assim aconteceria que, logo que acordou, levantou-se imediatamente, entregando-se ao trabalho de pôr em ordem a cabana, para que nela pudesse ser recebido o hóspede celeste desejado. Apesar de uma violenta tempestade de granizo e neve, nem por isso o pobre aldeão abandonou os preparativos domésticos, cuidando também da sopa de couves, que era o seu prato predilecto, olhando de vez em quando para a estrada, sempre à espera da feliz ocasião, não obstante a tempestade continuar implacável.
Decorrido pouco tempo, o aldeão viu que caminhava pela estrada, em luta com a tempestade de neve que o cegava, um pobre vendedor ambulante que levava às costas um fardo bastante pesado. Compadecido, saiu de casa e foi ao encontro do vendedor. Levou-o para a sua cabana, pôs-lhe a roupa a secar ao fogo da lareira, repartiu com ele a sopa de couves e só o deixou ir embora, depois de ver que ele já tinha forças para continuar a jornada.
Olhando de novo através da janela, viu uma pobre mulher grávida, à procura do caminho na estrada coberta de neve. Foi buscá-la e abrigou-a também na cabana. Mandou-a aquecer ao lume benfazejo do lar, deu-lhe de comer, embrulhou-a na sua própria capa e não a deixou partir enquanto não tivesse readquirido forças suficientes para a caminhada.
A noite começava a cair e nada havia que pudesse anunciar a vinda de Jesus.
Já quase sem esperanças, o pobre aldeão abriu a porta ainda mais uma vez. E, estendendo os olhos pela estrada, distinguiu uma criança, percebeu que estava perdida no caminho por causa da neve que caía impetuosamente. Saiu mais uma vez, pegou na criança quase gelada, levou-a para a cabana, deu-lhe de comer e, não demorou muito, lá estava a criança adormecida ao calor da lareira.
Sensivelmente impressionado, o aldeão sentou-se e adormeceu também ao fogo da lareira. De repente, uma luz radiosa que não provinha do lume da lareira iluminou tudo! E, diante do pobre aldeão, surgiu risonho o Senhor, envolto numa túnica branca.
-Ah!, Senhor! Esperei todo o dia, e Vós sem aparecerdes – lamentou-se o aldeão.
E Jesus respondeu:
- Já por três vezes, hoje, visitei a tua cabana: o pobre vendedor ambulante, a quem socorreste, aqueceste e deste de comer, era eu; a pobre mulher, a quem deste a tua capa, era eu; e esta criança, a quem salvaste da tempestade, também era eu… O bem que fizeste a cada um deles, a mim o fizeste!”
(In Lauro Trevisan, CONHECE-TE E CONHECERÁS O TEU PODER,
PAGS. 91-92 - Com a devida vénia)