segunda-feira, 14 de abril de 2008

Alfa e Omega


I N T E G R I S M O

Antes do Concílio Vaticano II taxavam-se de progressistas os que se batiam por uma renovação da Igreja que em grande medida o Concílio consagrou – o mesmo não se podendo infelizmente dizer da sua mise en pratique. Hoje a dicotomia é menos acentuada, mas continua a existir, e a acção de Ratzinger à frente da Congregação da Doutrina da Fé fez calar muitas vozes que se erguiam em favor da renovação, nomeadamente teológica, da Igreja. O problema é antigo, portanto, mas continua actual.
Pareceu-nos, por isso, que valeria a pena recordar algumas considerações do P. Teilhard de Chardin datadas de 1927 (!) e que encaram uma faceta do integrismo muitas vezes passada despercebida – a que leva a alienar da esfera cristã a preocupação com a materialidade das realidades terrenas. Aqui fica.

Não há dúvida de que, por vezes se tem a impressão de que as nossas igrejinhas nos escondem a Terra. Ocorre-me agora um pensamento que já tive vai para mais de dez anos. Quer-se identificar a ortodoxia cristã com um “integrismo”, isto é, com o respeito pelos menores mecanismos dum pequeno microcosmos construído há séculos. Na realidade, o verdadeiro ideal cristão é o “integralismo”, a saber, a extensão das directrizes cristãs à totalidade dos recursos contidos no Mundo. Integralismo ou integrismo, Dogma-eixo ou Dogma-quadro, eis a luta em curso, desde há mais de um século na Igreja. O integrismo é simples e cómodo, para os fiéis e para a autoridade. Mas exclui implicitamente do Reino de Deus (ou nega por princípio) as enormes potencialidades que se agitam por toda a parte à nossa volta, na ordem social, moral, filosófica, científica, etc. Aí está a razão por que lhe declarei guerra de uma vez para sempre.
Carta a Léontine Zanta de 7 de Maio de 1927.

J.Tomáz Ferreira