terça-feira, 22 de abril de 2008

Reflictamos com G. Vattimo em O Futuro da Religião

«Que hoje a maior parte dos católicos praticantes não considere necessária à sua própria fé a ética sexual defendida pela Igreja equivale a um apelo à privatização da religião. Se a Igreja continuar a apresentar-se como um poder autoritário arrisca-se à marginalidade e obriga indirectamente os seus fieis a privatizar a fé. Hoje são muito poucos os católicos que não são favoráveis a uma livre decisão relativamente ao controlo dos nascimentos, ao casamento dos padres, à ordenação sacerdotal feminina, ao uso do preservativo como precaução contra a Sida, à admissão à comunhão dos divorciados que voltaram a casar, à legalização do aborto e sobretudo à discussão pública, por parte dos mesmos fiéis, dos ensinamentos doutrinais, tal como muitas vezes observou Hans Kung. O futuro da Igreja Católica como instituição no século XX depende, nas palavras de Gregório Magno, da capacidade de o papa se colocar na igreja como o servo dos servos de Deus.
À Igreja Católica serve um primado pastoral, que se concentre nas tarefas ligadas à construção do presente, e não um primado jurídico. Uma igreja eurocêntrica e patriarcal tem que deixar espaço para uma igreja universal e tolerante, que garanta a autonomia das igrejas nacionais, regionais e locais. Um número incalculável de cristãos, de comunidades e de grupos em todo o mundo, está a viver um autêntico ecumenismo centrado no Evangelho apesar da resistencia oferecida pelas estruturas eclesiásticas: o desafio do futuro consiste em convencer a Igreja de que a caridade deve tomar o lugar da disciplina...».
In O Futuro da Religião, Richard Rorty e Gianni Vattimo, pp35, Org. Santiago Zabala, Angelus Novus, www.angelus-novus.com