domingo, 20 de janeiro de 2008

*Alfa e Omega

CATÓLICA

Foi na minha última visita a Roma que me foi dado sentir com mais intensidade a natureza católica da Igreja minha mãe. Houve, durante essa visita, dois momentos sucessivos que se me conjugaram cá dentro e me provocaram a sensação (sabida e ressabida pela mente, mas nunca vivida como então) da universalidade da Igreja – católica quer dizer isso mesmo: universal.
Primeiro, foi a visita às Catacumbas de S. Calixto para, nas entranhas da turfa romana, poder contemplar os testemunhos da Fé que os irmãos que me precederam de muitos séculos já então professavam expressa no desenho do peixe (ikhthus, em grego) a exprimir a verdade primordial da Fé: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. E eu, que me orgulho de ser cristão, senti-me um elo mais na cadeia da Fé que, atravessando a cadeia dos séculos, testemunha a Boa Nova de que Deus amou o mundo a ponto de lhe enviar o Seu Filho para o salvar. Era a catolicidade no tempo, o sentir-me parte duma comunidade que, de geração em geração, foi entregando (tradição = entrega) aos que chegavam o testemunho duma Fé que assim se ia rejuvenescendo.
Depois, foi a audiência papal – no pontificado ainda de João Paulo II. E não foi o blá blá blá mais ou menos banal (passe a irreverência) do discurso pontifício que mais me impressionou. Foi aquela sala apinhada com cerda de cinco mil pessoas onde se misturavam e se exprimiam, nomeadamente através do canto, as tradições culturais da terra inteira. Que me lembre (e não posso ser exaustivo), havia japoneses, coreanos, chineses, filipinos, indonésios, indianos, angolanos, argentinos, brasileiros, chilenos, mexicanos, canadianos, colombianos, uruguaios, paraguaios, estadunidenses, venezuelanos, eu sei lá? Sem contar os países todos os quase do velho continente. Em grupos, mais ou menos desorganizados, iam cantando e professando a sua Fé em todas as línguas da Terra, numa babel de harmonia criada pela unidade dessa Fé que professavam em Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Estavam ali reunidos porqque reconheciam no homem que vinham escutar o sucessor daquele a quem Cristo cometeu a tarefa de confirmar na Fé os seus irmãos. Porque fora ele – Pedro – que, exprimindo o sentir de todos os discípulos, à pergunta de Jesus “E vós, quem, dizeis que Eu sou?”, respondera, inspirado pelo Pai “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”. E ali tinha eu a Igreja minha mãe na sua catolicidade geográfica, a completar a catolicidade temporal experimentada nas Catacumbas de S. Calixto.
É esta a Igreja de Cristo: a que tem por vocação acolher todos os homens de todos os tempos, de todas as latitudes, de todas as condições; que tem por vocação acolher todas as culturas, todas as civilizações, todas as mentalidades, todos os modos e estilos de vida, contanto que, em verdadeira sinceridade de coração, confessem a Boa Nova de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que veio ao mundo para nos salvar, dando-nos a possibilidade, se quisermos, de alcançar a vida que não tem fim.

J. Tomaz Ferreira
*Alfa e Omega - para assuntos religiosos