terça-feira, 15 de janeiro de 2008

As exigências da Vida Cristã...

Normalmente, as exigências da vida cristã são encaradas como incluindo o esforço para garantir a salvação própria. “salvar a alma”, garantir a posse do Céu após a morte foi o desígnio que nos propuseram e que havíamos de conseguir alcançar evitando fazer o mal, fugindo do pecado – numa visão redutora da vivência cristã, que assim duplamente se limitava: primeiro, centrando-se no próprio umbigo, depois reduzindo o viver cristão à inibição do “não fazer” (o mel). É a pecha do amartiocentrismo castrador das energias e das capacidades humanas. Quando se avançou um pouco mais, foi para nos dizerem que também nos devíamos sentir responsáveis pela salvação dos outros. Isso aconteceu quando o clero se apercebeu da sua insuficiência para garantir o anúncio do Evangelho a todos os homens – em suma, quando se verificou que deixaram de coincidir as dimensões da cristandade com as da sociedade humana. A versão mais actualizada dessa preocupação vemo-la naquilo a que chamam “nova evangelização” e cujos méritos não se denegam. Mas há mais, tem que haver mais. O universo, que foi criado através do Verbo (“tudo ofi feito através d’Ele” – Jo. 1, 3), que n’Ele encontra a sua subsistência (cf. Col., 1, 17) está a caminho de n’Ele se consumar. É todo o trabalho da Evolução (que desde o início está em curso e que culminou no aparecimento do homem, mas que prossegue para além dele) que continua na história do homem e na sua acção sobre o mundo criado. E esse trabalho é o trabalho redentor de Cristo para levar a cabo, para conduzir a bom termo a obra em curso desde o primeiro momento da passagem do nada ao ser. Continuadores da obra redentora de Cristo, os cristãos devem estar na primeira linha do trabalho sobre as realidades terrenas. Devem ser nelas os mais empenhados, conscientes de que, ao fazê-lo, é a obra de Deus que eles vão realizando com o trabalho das suas mãos. É verdade que, com eles ou sem eles, esse trabalho será levado a cabo – porque o desígnio de Deus não pode falhar. A aventura humana é fruto do esforço de todos os homens. Mas, de todos os homens, os cristãos são os únicos que detêm a chave do seu sentido profundo. Os outros trabalham para conseguir objectivos de curto prazo. Os cristãos sabem o sentido final para que convergem todos os pequenos triunfos que vão sendo conseguidos por si e pelos homens seus irmãos. Paradoxal seria que a parte consciente da Humanidade, que detém o segredo do sentido último do esforço humano, se empenhasse menos do que os outros em levar a cabo a obra em curso. É nesta mobilização para trabalhar o mundo, nesta glorificação do esforço humano para dominar a Terra que se encontra a palavra-chave duma nova evangelização. É urgente anunciar a boa nova da sagração do esforço humana sobre as realidades terrestres como prolongamento da acção criadora do Verbo, da acção redentora de Cristo que tem como objectivo final a construção da nova terra.
J. Tomaz Ferreira