sábado, 26 de janeiro de 2008

Silêncio...e a radicalidade do mundo

Há muito tempo que não vou a um Carmelo Descalço. Mas durante quase uma década, de 80 a 90, o meu quotodiano fez-se entre as correrias de fim de semana ao Carmelo de Braga, Aveiro, Porto, Crato, Viana do Castelo e a vivência silênciosa, semanal, do Carmelo no meu coração, na altura, muito dividido, entre o caminho (real) a que Deus me chamava, ao jornalismo, profissão que já exercicia; e esse outro, o do Carmelo, que eu teria gostado que Deus me tivesse ofertado para projecto de vida.

Ainda hoje, já ando nisto há 20 anos, continuo a achar que não existe outra entrega tão absolutamente oblástica, quanto esta de nos entregarmos a Deus escondidos na musica calada de que fala S.João da Cruz nos versículos da sua obra poética.

Lembro-me da primeira vez que juntei a minha voz, à voz das monjas no canto das Laudes, e às 5:50 da manhã o nosso canto era tão belo e tão enérgico, como se uma multidão de homens e de mulheres nos escutasse ou ali estivesse para avaliar as nossas performances corais.

E depois o silêncio...o trabalho em silêncio...a oração silenciosa absorvendo tudo em nós e nós no todo.

Não estou certa que o mundo reze hoje menos porque é menos silêncioso que outrora. Nem estou certa que a desacralização da Europa, possa constituir paradigma analitico para concluirmos que o mundo, hoje, reze menos que por exemplo há um século atrás. Já não tenho dúvidas nenhumas quanto ao facto de hoje, o mundo, para rezar, precisar também de testemunhos claramemente comprometidos com a pessoa de Jesus.

É aqui que vejo o sinal que as ordens contemplativas vivenciam para o mundo: testemunhos de um sinal. De um sinal radical. Mas não é na radicalidade que o mundo gosta de se exprimir?
Ana Paula Lemos