terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Pecado de Não Fazer

A vida de muitos cristãos – bons cristãos – é dominada pela obsessão de evitar o pecado. É uma vida que se define pela negativa: não fazer (o mal) é a preocupação dominante. Chama-se amartiocentrismo a este centramento da vida em não transgredir o que foi ordenado, em evitar o que é proibido. Ouve-se mesmo enunciar, jocosamente, que, nesta vida, tudo o que é bom ou faz mal ou é pecado. Como é evidente, não está nas nossas intenções chamar bem ao mal, nem convidar ao laxismo de considerar que tudo é permitido, que tudo se pode fazer: como aqueles que, do aforismo agostiniano “ama e faz o que quiseres”aproveitam apenas a última parte e se julgam no direito de levar uma vida sem limitações. O que queremos fazer notar é que, dominada pelo amartiocentrismo, a vida cristã, por muito “certinha” que se apresente, se pode revelar eminentemente estéril. E não atenta na fórmula da confissão dos pecados que se faz no rito penitencial com que tem início a celebração da Eucaristia, em que confessamos ter pecado “por pensamentos e palavras, actos e omissões”. E é das omissões que Jesus fala quando dá a razão para não receber no seu reino os condenados: “Tive fome, e não me destes de comer…” Para já não falar da parábola dos talentos: o servo mau não o é por ter perdido o seu talento – mas com medo de o perder, o enterrou para o poder restituir quando o senhor voltasse. É verdade que toda a acção envolve riscos. Mas, como disse alguém, “quem faz pode errar algumas vezes; mas quem não faz erra sempre”.
J. Tomaz Ferreira