segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A propósito da liberdade e da Igreja...

*Alfa e Omega
A censura portuguesa…


Numa das estações televisivas mais modestas da Europa dos dias de hoje, uma jornalista, tão imparcial como os seus colegas e superiores, informou «o povo » de que o Papa Clemente XVI havia renunciado a pronunciar uma conferência na abertura solene do ano lectivo da Univesidade «la Sapienza», de Roma, quer dizer, a 17 deste mês de Janeiro, por causa da oposição dos seus estudantes; ponto final.
Tudo isso é ou parece exacto, não fora tão descaradamente parcial. O Reitor da dita universidade convidara o Papa a realizar uma conferência na sessão solene da abertura do novo ano académico, e ninguém viu nesse convite qualquer anomalia ou inconveniência, até que um grupelho de extremistas descobriu ali um bom pretexto para darem a conhecer a sua pobre existência e, como é habitual, convidaram para a eles se associarem outros profissionais da agitação. O que é preciso é gritar muito, telefonar para a televisão, e, assim, multiplicar até ao infinito sua incrível indigência intelectual e moral. Em Itália, o futebol tem servido, às mil maravilhas, para manter viva essa chama de « indigência » moral que há muito ultrapassou as raias do admissível. Um exemplo: muito recentemente, a meio da viagem de deslocação de « tifosi » do Norte para o sul de Itália, aquando da paragem, a meio-caminho, um jovem foi vítima de uma bala que, não, não lhe dera destinada. Pais e amigos vieram à televisão protestar contra a morte do jovem calmo, sereno, exemplar, e toda a gente compreendeu e se associou a essa infelicidade. Pois, esse « tifoso» exemplar tinha no bolso só duas pedras…
A sra. Judite de Sousa, não tinha certamente pedras nos bolsos, quando se esqueceu de informar os portugueses que toda a classe política, sem excepção, condenou essa vergonhosa intransigência ideológica de um grupelho, a começar pela « rifondazione comunista», à qual pertence o presidente da Câmara dos Deputados. Nessa mesma hora, o Presidente da República, igualmente sócio da «rifondazione» condena verbalmente comportamento tão oposto ao da liber-dade de opinião, e momentos depois, envia ao Papa uma carta a pedir desculpa por tamanha intolerância.
Os italianos têm à escolha, às 7 da tarde, entre, vários telejornais, tanto da Rai ( 4 canais), como da Mediaset (3 canais) ou da Sky News, que das várias dezenas de canais tem 4 telejornais em emissão permanente. Sob este ponto de vista, os emissores portugueses têm a vantagem de disporem, pelo menos, de mais uma hora sobre a maioria das outras televisões europeias, na preparação dos telejornais. Consequentemente, na mesa da RTP já estava há muito, não só a notícia e as imagens da oposição à conferência do Papa, mas também a clamorosa resposta que o outro povo de Itália lhe deu. A sra. Judite, meteu-a no bolso…

Os protestos prosseguiram imparáveis; sob a égide do director do « Il Foglio» Jorge Ferrara, intelectual agnóstico de reputação mundial, centenas de romanos organizaram uma vigília de protesto, que atingiu o seu auge, ontem, aquando da sessão solene da abertura do ano académico. A condenação unânime da manifestação de segunda-feira, foi bem vincada pela voz do Reitor, ao afirmar que « ia endereçar um novo convite ao Papa ». Não menos pertinente foram as palavras do Presidente da Câmara de Roma, futuro primeiro ministro de Itália.

O que precede põe em relevo a unanimidade e rapidez da resposta que a Itália soube dar ao extremismo tão intolerável como bacoco.
Os extremistas romanos esqueceram que o Papa é um chefe de Estado, e que é simultaneamente, o Chefe da Religião Católica, religião que no decorrer de vinte séculos, prestou e continua a prestar inegáveis serviços a toda a humanidade; o Papa é igualmente Bispo de Roma. Bento XVI é, inegavelmente, um dos maiores intelectuais do nosso tempo, seja qual for a crença ou religião de cada um. A Igreja tem suscitado por esse mundo adiante atitudes de conciliação, abrindo caminhos de paz e tolerância que ninguém contesta, antes pelo contrario, a elas se associa Não foi a Comunidade de Santo Egídio que conseguiu obter a paz em Moçambique?
A camuflagem da RTP está agora envolvida « no manto diáfano » do silêncio da Igreja Portuguesa, perante esta ofensa ao Sumo Pontífice, à liberdade de expressão, e à verdade.
Neste domingo, na Praça S.Pedro eram só 200.000 os italianos, católicos e não católicos, que ali acorreram para exprimirem sua solidariedade ao Papa e à liberdade de expressão, como muitos afirmaram.
Fernando Moura
*Alfa e Omega (assuntos religiosos)